Era uma vez um lobito bom

A quem maltratavam todos os cordeiros (canção infantil espanhola)

 

Ergueu-se um coro de indignação, um enorme escândalo, uma campanha de desacreditação do sindicalista que ousara “ inventar” uma lista VIP, apenas e só “para conseguir protagonismo e criar um facto noticioso”. Como era possível alguém mencionar a existência de um grupo de tributariamente intocáveis, ainda para mais numa suposta acção de formação?

Durante meses sucederam-se os processos disciplinares internos, as ameaças e as mais diferentes manobras de descredibilização da organização que tinha tido a ousadia de tornar pública tal notícia. Agora, finalmente, e como que por acaso, constata-se que de facto o rei ia nu, mas – tarde demais – fugira para um qualquer paraíso fiscal!

Este não é caso único nem será, infelizmente, o último. Os sindicatos, que muitos consideravam não fazer sentido no século XXI, mercê do crescimento do Estado Social e da Social Democracia (Sic), são hoje uma das vozes que mais clama e denuncia situações de funcionamento danoso da sociedade. Já não são apenas organizações que se manifestam, que fazem greve e piquetes. Hoje em dia, são os representantes dos seus pares e o seu objectivo não é apenas lutar contra o capital, mas sim tornar-se parceiros activos na resolução dos problemas laborais e sociais de um país.

Por isso é que as suas denúncias devem ser escutadas com atenção, analisadas e investigadas, já que aquilo que os move, salvo raras excepções, não é chegar ao poder político, nem às luzes do mediatismo. O “politicamente correto” não tem lugar no seu código de conduta, que se esforça por cumprir, quantas vezes a duras penas.

Quando um dirigente ou uma estrutura sindical aponta o dedo, luta pelos direitos dos que o elegeram, é apontado como um perigoso provocador, um elemento de desestabilização. Quando um político que, em campanha eleitoral, jurou fazer eco dos eleitores é apanhado em falso e nada mais lhe resta do que sair de cabeça baixa, é visto como um homem íntegro e de elevado carácter… Como se estas não fossem as características exigidas para se chegar ao poder!

Há sindicatos que alertam para verdadeiros crimes económicos, para a gestão danosa dos dinheiros públicos (que são de nós todos), para a corrupção e para o corporativismo. A reacção ainda é a de que “são uns tipos que protestam por tudo e por nada”. Mas quando menos se espera, quando toda a poeira acaba por pousar, surge o elefante que estivera sempre na sala. O problema é que a maior parte das vezes já destruiu tudo à sua volta.

A autora escreve segundo a antiga ortografia.