As crises em Portugal são cíclicas dado que, geralmente, não temos a humildade nem a coragem para reconhecer os nossos erros, pouco ou nada fazendo para a sua erradicação. Como já aqui afirmámos, um país que esteve à beira da bancarrota em três ocasiões nas últimas quatro décadas, já de há muito deveria ter assumido a obrigação de corrigir as deficiências estruturais que o conduziram à iminência de tais situações de colapso.
No entanto, ao menor sinal de recuperação, logo os anteriores sinais de alerta parecem esquecidos e de novo cedemos à tentação da fuga para a frente. Como se integrássemos a vanguarda do desenvolvimento europeu e não estivéssemos, desde o início do século, com níveis medíocres de crescimento económico.
Os avisos continuam a chegar-nos de diversas origens. Desta vez foi a Comissão Europeia, que acaba de arrefecer alguns ânimos ao salientar que persiste entre nós uma situação de excessivo desequilíbrio macroeconómico. A economia portuguesa mantém-se “vulnerável aos choques” e, apesar do “quarto ano consecutivo” de muito tímida recuperação, subsistem preocupantes fragilidades estruturais: débil sistema financeiro, dívida pública muito elevada, crescimento económico anémico e excessivo desemprego jovem e de longa duração.
Tudo isto agravado, segundo a avaliação agora feita pela Comissão Europeia, pela quebra do impulso reformista, designadamente quanto a reformas no mercado de trabalho e mercados de produtos, regime de tributação das empresas, enquadramento do ambiente empresarial ou administração da justiça, entre outros.
Os anos vão passando e o atraso nestas reformas estruturais condiciona fortemente a nossa produtividade e o crescimento potencial da economia, não contribuindo também para atrair o investimento privado verdadeiramente crucial para o nosso desenvolvimento.
O que fazer? Desde logo, aprender com os países que têm sabido superar este tipo de dificuldades. Países como a Alemanha, nos algo distantes anos de Gerhard Schroeder (1998-2005) ou a Finlândia, bem mais próxima dos nossos dias, que empreenderam verdadeiras reformas estruturais para resolver acentuados desequilíbrios macroeconómicos, deviam servir-nos de exemplo.
Estranhamente, por cá, ainda há quem se sinta fascinado por outros modelos, como se o progresso e a prosperidade se alcançassem com truques de retórica e propaganda política.