Vencidos por alguns dados económicos e orçamentais positivamente surpreendentes e internacionalmente aclamados do país, PSD e CDS entraram numa encruzilhada que só pode fazer os portugueses pensar que não são alternativa de governo.

O argumento das contas do país em ordem pertence tradicionalmente à direita, pelo que, por estes dias, não é fácil estar na oposição e é ainda mais difícil defender e justificar as virtudes de projetos de direita liberal em Portugal, principalmente depois do governo de Passos Coelho ter deturpado o conceito de liberalismo.

Mas se as condições políticas e económicas não ajudam, a inaptidão desta direita em particular é gritante e seria difícil fazer pior.

A cada notícia de sucesso contrapõe frases vagas e que nada acrescentam, como a do “podia ser melhor!”. Radicalizam o discurso sempre que os juros sobem décimas nos leilões de dívida pública, falando imediatamente em bancarrota (dando até a triste sensação de que é isso que desejam). Depois de governarem pelo medo e de terem perdido o poder para a esquerda unida com essa mensagem, voltam a usá-la na oposição e repetem a lengalenga e as ridículas queixas sobre a “asfixia democrática”. E fazem-no num assunto em que aqueles que acompanham a vida política com a mínima atenção já perceberam a verdade e estão pouco ou nada preocupados com conteúdos de SMS.

A direita está a fazer a política fácil e rasteira “à la Bloco de Esquerda”, em vez de se comportar com a responsabilidade de um governo sombra capaz de entrar em funções amanhã, se necessário. É preciso recordar que o seu eleitorado base não se revê nesse estilo e que deveria ter consciência que, quando começa a tentar fazer política como se fosse a extrema-esquerda, o bumerangue regressa sempre com mais força do que quando parte. Está aí a primeira vítima: Paulo Núncio. Se necessário, outras aparecerão, pois no que toca a política “rasteira”, a roda foi inventada pela esquerda.

É certo que PSD e CDS movem-se normalmente num limbo político, sendo muito mais dependentes da simpatia que as suas lideranças recolhem no eleitorado “centrão” do que propriamente da capacidade de imporem ideias políticas reformistas. Neste capítulo, se o CDS tem uma líder com potencial de se impor, o PSD tem um líder cuja mera voz já se tornou tão cansativa aos ouvidos dos portugueses como a de Sócrates no fim do seu tempo político.

Dizer-se que o diabo vai chegar é fácil. Na verdade, no nosso frágil Portugal, o diabo acaba sempre por chegar e, infelizmente, os ciclos negativos são sempre mais intensos que os positivos. Ainda assim, quando chegar seria bom saber que temos uma direita liberal, responsável e com frescura reformista para puxar pelo país.