A receita dos impostos na Suécia foi 40 mil milhões de coroas mais alta porque os suecos pagaram mais imposto do que deviam. Até parece que estão malucos e temos um país inteiro cheio de masoquistas fiscais. Porém, a explicação é simples: estão a fazer-se ao reembolso. Como as taxas de juro na Suécia são negativas, pôr o dinheiro no banco é pagar, enquanto que o fisco dá aos contribuintes 0,6% pelo dinheiro que devolve. Assim, ganha-se mais com os reembolsos de imposto do que a pôr o dinheiro nos bancos.

Este mundo de taxas de juro negativas está a dar a volta à cabeça das pessoas. Na Suíça, onde os bancos não pagam pelos depósitos e o Estado dá um prémio por antecipação, as pessoas pagam impostos antes de tempo. Na Dinamarca, em vez de se pagar pelo empréstimo da casa, recebe-se. No Japão, a compra de cofres disparou porque é mais barato ter o dinheiro em casa do que depositá-lo. Um terço da dívida dos países desenvolvidos é emitida a juro negativo – o credor recebe menos do que emprestou, e mesmo assim empresta; vamos em 7 mil milhões de dólares, e na Suíça chega aos empréstimos a 50 anos! Até as autoridades estão loucas: no dia 3 de agosto, o BCE comunicou que 20% dos 10,4 mil milhões de euros de compras de dívida de empresas que fez tinham taxa de juro negativa. Quando o BCE paga para emprestar, está tudo dito, é o delírio coletivo.

Isto tem-se espalhado como uma epidemia. Só ainda não chegou aos EUA – onde a política económica não é anunciada nos comunicados do Tesouro nem nas conferências da Governadora da FED e, sim, nos tweets do Presidente –, mas vai chegar em breve! O que se vai seguir? Vamos ser obrigados a comprar a crédito, o vendedor não nos vai deixar pagar a pronto; vamos procurar a loja que nos deixa pagar a um mês, que é preferível a um ano. Os ladrões vão obrigar-nos a ficar com o dinheiro deles e roubar-nos a identificação para nos porem em tribunal e, uns anos depois, receberem dinheiro e custas, mais do que dão os títulos da dívida suíça ou alemã.

Vai ser assim em todo o lado menos numa aldeia que resiste ainda e sempre ao invasor, chamada Portugal. Aí ninguém pagará imposto a mais, apesar de não confiar nos bancos, porque confia menos no fisco. Com o Bloco de Esquerda e o PC a reclamarem por o défice orçamental ser inferior ao combinado e se ir pagar antecipadamente dívida ao FMI, em vez de gastar esse dinheiro, sabemos o que acontecerá se pagarmos imposto a mais: não nos vão devolver nada, vão é gastá-lo.