Ainda recentemente, a central nuclear de Almaraz, muito perto da fronteira com Portugal (cerca de 100 quilómetros), deu que falar. Acredito que este assunto está longe de ser resolvido e que ainda “correrão muitos rios de tinta” à sua conta. Aliás, esta situação é só mais uma de entre o grande imbróglio que nós, seres humanos, temos em mãos com a questão nuclear.

Os contornos deste exemplo são muitos e antigos como é sabido, e após o protesto do Governo português em relação aos últimos desenvolvimentos houve conversações sobre o assunto, mas não antes daquele ameaçar fazer queixa à Comissão Europeia. A partir desse processo reuniram-se, posteriormente, especialistas in loco. Por ora, contudo, só temos (e teremos) silêncio até as partes envolvidas (pelo menos uma) mudarem de posição, ou confluírem numa, talvez a final.

Esta situação arrasta-se há anos e pareceu sempre, deste lado da fronteira, que Espanha raramente teve em consideração mais do que as suas perspectivas económicas sobre o assunto e das suas empresas: a central nuclear é gerida por três conhecidas empresas espanholas (Iberdrola, Endesa e Unión Fenosa), e já devia ter sido encerrada em 2010 de acordo com as normas e acordos da União Europeia (de entre eles a Convenção de Espoo). Todavia, o seu funcionamento foi prolongado por Espanha, ao que parece unilateralmente, até 2020. Aos problemas recorrentes no que diz respeito à localização da central, desta vez, acresce a construção tentada (não se sabe continuada) de um armazém de resíduos nucleares no mesmo local.

Este é um assunto regional, mas também europeu, e é um assunto que nos afecta directamente, devendo a sua resolução ser central para nós, portugueses. É um ponto estratégico que deverá ser resolvido em consonância com o que foi estipulado por acordo dos países da UE.

Sabe-se hoje que os custos com energia nuclear são muito mais morosos do que o que se fazia crer há várias décadas. Ainda recentemente se assinalaram os seis anos do acidente em Fukushima, evento que voltou a trazer à agenda mediática este tipo de problemas. Tendo sido um dos acidentes com maiores repercussões desde 1986 com Chernobyl, há ainda muito que investigar sobre o que aconteceu em 2011. Assim, os impactos destes acontecimentos são simbólicos porque revivem o medo e a perigosidade dos mesmos, mas são muito mais que isso para a população que vive naquela área do Japão. Embora aparentemente menores do que o acidente na Ucrânia, os seus efeitos são devastadores.

Com efeito, a exposição a estes níveis de radiação implica uma discriminação negativa por parte da restante população, uma vez que não se sabe ao certo como é que as consequências físicas, ao nível da saúde, se vão manifestar. Por esta via, mais do que o impacto físico, potencial e efectivo, nestas populações, gera-se uma tensão social e com consequências ao nível da gestão de expectativas quanto ao futuro para os envolvidos.

Mais do que uma moda, a questão do nuclear tem e deve ser vista de uma forma pragmática, visto colocar em perigo a vida na terra. Esta não é uma questão de esquerda nem de direita, nem deve sê-lo, ainda que, realisticamente, seja uma questão de nações ou de fronteiras. Afinal, ainda é cedo para mudarmos de planeta, apesar das recentes e encorajadoras descobertas de sete planetas semelhantes à Terra, e pode ser tarde demais para todos nós, não necessariamente só para aqueles que vivem perto do rio Tejo.

A autora escreve segundo a antiga ortografia.