O aparente sucesso dos populismos que encontram respaldo nas crises tem influenciado sucessivamente, e de forma séria e gravosa, estratégias e políticas governamentais e, principalmente, campanhas eleitorais em curso. Este fenómeno, bastas vezes associado a políticas de direita, surgiu com mais expressão e sucesso à esquerda com o aparecimento do Syrisa ou do Podemos, e em consequência das restrições para corrigir a crise das dívidas soberanas.

Os populistas lançam mão dos sentimentos primários pelo seu discurso direto, imediatista e de perceção fácil. É a política na sua expressão mais simples e demagógica, apelando ao mais elementar dos cidadãos. O processo do Brexit, a eleição quase inesperada de Trump, a ascensão de partidos radicais ou o crescimento dos nacionalismos são o resultado da política de choque discursivo e do soundbyte, do apoucar governantes responsabilizando-os pela perda de qualidade de vida, pelo gorar de expectativas.

Os vários sistemas políticos têm tido dificuldade em lidar com esta nova situação. Os políticos mais responsáveis, que pensam o futuro de forma estruturada, são contagiados pelo novo tipo de discurso e sentem-se arrastados para posições decadentes. O modelo da democracia e a observância estrita das suas regras conduzem-nos a situações de perplexidade perante o desafio ao centro e o soerguer dos extremos políticos. Se, em consequência da queda do muro de Berlim e da derrocada do regime soviético, pusemos em causa as ideologias dominantes em todo o século XX, hoje crescemos num ambiente de leveza ideológica em direção a uma mera – e cada vez mais marcada – gestão do quotidiano.

Neste contexto, torna-se difícil enquadrar a polémica entre vários políticos europeus e o regime turco. A proibição de políticos turcos se dirigirem a cidadãos seus num ato de esclarecimento, promovendo a expulsão de ministros ou colocando-os em situação de detenção, deixa-nos apreensivos. Sem branquear a política turca, impedir que os seus protagonistas façam campanha para os seus cidadãos, pronunciando membros de um governo estrangeiro persona non grata, assume uma inadmissível limitação da democracia e da liberdade.

Não se afigura legítimo assumir tais posições num espaço proclamado de tolerância e de solidariedade na Europa comunitária. A mesma Europa que, quando foi necessário fazer da Turquia um escudo para segurar os emigrantes, negociou e contratualizou. E não foi preciso erguer um muro, bastou pagar. Deixar deslizar a política a este nível pode ter um preço elevado. O principal é alienar a ponte de ligação entre a Europa e o Médio Oriente – através do Bósforo.