Tradição, protocolo, descentralização e ecumenismo coincidem nesta terça-feira, primeiro dia do segundo mandato presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa, que tomará posse na Assembleia da República, numa cerimónia que começa às 10h30, antes de se dirigir ao Mosteiro dos Jerónimos para depositar coroas de flores nos túmulos de Luís Vaz de Camões e Vasco da Gama e passar pelo Palácio de Belém, seu lugar de trabalho durante mais cinco anos, partindo para o Porto, onde será recebido pelo presidente da autarquia, Rui Moreira, e visitará o Centro Cultural Islâmico depois de se encontrar com representantes das diversas confissões religiosas.
A inclusão de todos os portugueses será uma das traves-mestras do segundo mandato do professor universitário jubilado, efémero líder social-democrata e popular comentador televisivo, de 72 anos, que durante a campanha eleitoral para as presidenciais se definiu como travão a todo o tipo de extremismos e garante de moderação. Mas as maiores prioridades são os grandes desafios, tão evidentes quanto fundamentais, da contenção da pandemia de Covid-19 e da recuperação económica e social de Portugal.
Como avançou em entrevista ao Jornal Económico, poucos dias antes de ser reeleito, as três prioridades serão “conter e abreviar a pandemia”, “aguentar os tecidos económico e social e garantir o mais rápido rearranque possível” e “aproveitar a recuperação para criar condições estruturais para crescimento com competitividade””.
Também por isso a sua preocupação com o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), advertindo na mesma entrevista que a qualificação de ‘bazuca europeia’ “que tem sido dada não é feliz”, pois “cria expectativas excessivas e deixa no ar a ideia errada de que, por si só, resolve problemas estruturais e conjunturais”. E o certo é que Marcelo Rebelo de Sousa terá como uma das alterações no segundo mandato aquilo que o “Expresso” descreveu na sua última edição como uma equipa de especialistas em várias áreas para “manter uma vigilância apertada” à utilização dos fundos europeus.
Outra aposta tem a ver com a igualdade de género e a diversidade, traduzindo-se em decisões como a escolha da escritora Lídia Jorge para o Conselho de Estado – preenchendo a “vaga” deixada pela morte do filósofo Eduardo Lourenço, a 1 de dezembro de 2020. Mas também nas alterações no Palácio de Belém, onde a escritora e ensaísta Djaimilia Pereira de Almeida, a major da GNR Patrícia Pereira, a economista Maria José Policarpo, a médica Isabel Aldir, a embaixadora Amélia Paiva e as ex-deputadas Inês Domingos e Patrícia Fonseca se juntam a uma equipa maioritariamente feminina.
No horizonte do segundo mandato estão também as legislativas de 2023, sendo que o Presidente da República disse repetidas vezes que não acredita na hipótese de uma crise política que implique antecipar eleições. Assim sendo, dentro de dois anos e meio ficará decidido se Marcelo manterá a coabitação com o primeiro-ministro António Costa ou se haverá uma alternativa de centro-direita, quase certamente liderada pelo PSD. E em que não fica excluída à partida uma solução em que o apoio maioritário dependa de um acordo escrito com o Chega.
Na entrevista ao Jornal Económico, Marcelo Rebelo de Sousa revelou a sua visão do segundo mandato com a “desejável duração da legislatura até ao fim”, seguida da “escolha entre novo governo de esquerda e o governo de direita em 2023, desejavelmente para durar até ao fim da legislatura”. E com “áreas de governação fortes para governarem bem e área de oposição fortes para poderem ser alternativas”.
Reeleito a 24 de janeiro, com 60,7% dos votos, num ato eleitoral marcado pela elevada abstenção de 60,76%, numa altura em que a pandemia de Covid-19 atingia os valores mais elevados em Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa manteve a invencibilidade dos chefes de Estado na hora de se candidatarem ao segundo mandato, ficando só aquém a nível de percentagem do ex-primeiro-ministro e ex-Presidente da República Mário Soares, fundador do PS, reeleito com 70,35% dos votos em 1991.
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