A Suécia reintroduziu recentemente o serviço militar obrigatório. Fruto da instabilidade geopolítica na Europa, causada em grande parte pela Rússia, esta medida colheu um surpreendente apoio de 70% dos deputados do Parlamento sueco.
Sou um apologista do serviço militar ou cívico obrigatório, mas sempre senti algum receio em assumir esta posição por me poderem acusar de belicista ou coletivista. Curiosamente, nas minhas recentes conversas com amigos a propósito do tema, fiquei surpreendido ao constatar que uma grande parte pensa da mesma forma: deveria ser obrigatório.
As circunstâncias políticas e ideológicas que levaram à extinção do serviço militar obrigatório pela Europa já não se verificam nos dias de hoje. Após a queda do muro de Berlim, os EUA, individualmente e através da NATO, assumiram o papel de polícia do mundo, criando uma ordem que garantia a segurança a todo o Ocidente. Hoje é notória uma inversão na política externa norte-americana nesta matéria, particularmente desde a eleição de Donald Trump e as suas erráticas declarações quanto ao financiamento da NATO e à simpatia por Putin. A anexação da Crimeia, o conflito no leste da Ucrânia e a crescente tensão no Báltico levam a crer que a Rússia já não teme o Ocidente e pretende tomar uma posição de força na nova ordem mundial. A China reclama igualmente o seu papel, subindo o tom das ameaças nos conflitos territoriais no sudeste asiático.
A recente tensão política entre a União Europeia e a Turquia – que detém o maior exército europeu e o segundo maior da NATO –, no contexto da proibição na Alemanha e na Holanda dos comícios relativos ao referendo constitucional, gera desconfiança na solidez da relação entre os membros da Aliança Atlântica. Os constantes atentados terroristas na Europa incrementam o sentimento de insegurança dos cidadãos, que exigem respostas claras por parte dos Governos. Finalmente, se nos anos 80 e 90 a ideologia neoliberal colhia largo consenso e ditava todas as regras, impondo a soberania do indivíduo sobre o Estado e a privatização das funções estaduais, incluindo a segurança, hoje esse consenso desapareceu.
O tema está na ordem do dia na Alemanha e deveria estar igualmente em Portugal. Voltar a criar um sistema de serviço militar ou cívico obrigatório seria um excelente contributo para reforçar o sentimento de segurança nacional e fortalecer o sentido de responsabilidade e de dever dos cidadãos por Portugal.