De acordo com o ranking Tech Tour Growth 2017, três startups nacionais de base tecnológica têm fortes probabilidades de se tornarem unicórnios em breve. Trata-se da Feedzai, da Talkdesk e da Uniplaces que, à semelhança da também portuguesa Farfetch, podem atingir uma valorização de mil milhões de dólares. A passagem a unicórnios decorre da rápida evolução do negócio destas empresas, bem como do potencial de crescimento que ainda apresentam.

Esta notícia vem ao encontro da ideia de que o ecossistema empreendedor português necessita de evoluir para uma nova fase, depois do boom de startups inovadoras. Na última década, muitos jovens aplicaram o seu conhecimento especializado em ideias de negócios, dando origem a empresas tecnologicamente sofisticadas, com produtos diferenciados e potencial de competitividade no exterior. Este processo resultou, por um lado, do aumento do nível de qualificações dos jovens e da sua maior predisposição para a iniciativa e, por outro, de uma melhoria substancial das estruturas e instrumentos de apoio ao empreendedorismo.

Agora é preciso que, tal como as startups referidas, muitos outros projetos de empreendedorismo ganhem escala, competitividade internacional e sustentabilidade económico-financeira. Ou seja, que desenvolvam os seus processos de scaleup (escalabilidade), de forma a criarem mais valor para si próprias e para o país.

Ora, para que isso aconteça, importa desde logo ultrapassar o risco de insucesso nas fases iniciais de desenvolvimento dos negócios. Segundo o estudo “Empreendedorismo 2007-2015”, realizado pela Informa D&B, um pouco mais de metade das startups portuguesas ultrapassa o terceiro ano de atividade, mas só um terço sobrevive para lá do sétimo ano.

Isto quer dizer que há muito potencial de negócio e, consequentemente, de riqueza e emprego, que se perde antes dos dez anos de atividade das empresas. Por isso, o grande desafio para o ecossistema empreendedor português é hoje criar condições para que as startups evoluam para scaleups. O nosso ecossistema está ainda muito focado no apoio a quem tem uma ideia de negócio ou se encontra em fase de arranque, faltando soluções para as scaleups.

Tal não significa que não se deva continuar a incentivar a criação de empresas, em particular projetos de empreendedorismo qualificado. Mas é crucial desenvolver igual esforço para que o ambiente de negócios em Portugal favoreça, de facto, o crescimento das startups nos primeiros anos de atividade. Para tanto, há que criar um quadro fiscal mais atrativo ao investimento em startups de elevado potencial, definir um conjunto de incentivos específicos para as scaleups, dinamizar o papel das empresas tecnológicas na Indústria 4.0, encontrar estratégias que facilitem o acesso a mercados externos, facilitar a atração de talento (nomeadamente doutorados) e reforçar a ligação aos centros de conhecimento. De resto, permito-me destacar neste ponto o recentemente apresentado programa Interface, que procura acelerar a transferência de tecnologia das universidades para as empresas, potenciar a certificação dos produtos e aumentar a competitividade da economia portuguesa e das empresas nos mercados nacional e internacional.

Por outro lado, dentro das próprias startups, há que saber ajustar os modelos de negócio de forma a potenciar o crescimento. Muitas vezes os inovadores (cientistas, engenheiros, programadores, criativos, etc.) têm boas ideias de negócio, mas falham na abordagem ao mercado. A inovação não substitui a boa gestão. Por isso, há todo um trabalho a fazer de mentoria especializada junto dos empreendedores, de modo a dotar as startups de massa crítica e competências em áreas cruciais para o crescimento das empresas.