Portugal representa um dos últimos redutos na Europa de uma esquerda démodé.

A espiral descendente da popularidade dos executivos de centro-esquerda, desde antes da grande recessão de 2008, tem-se intensificado nos últimos meses. Em Itália, a austeridade foi óleo de rícino para os eleitores e fez rebentar Renzi. Em França, Hollande não bisará na corrida das presidenciais, inédito desde a fundação da 5ª República, depois das sondagens revelarem os piores resultados para o Partido Socialista. A derrota dos democratas nos EUA foi o último alarme para que o centro-esquerda repense o seu posicionamento no xadrez político. Já o centro-direita, também desafiado pela crescente onda populista, tem resistido melhor, mas enquanto estes tendem a perder eleitores, principalmente para a extrema-direita, os partidos de centro-esquerda perdem votos em todas as direções.

De uma banda, os programas de investimento tradicionalmente defendidos pela esquerda estão, neste momento, comprometidos pelas regras do défice da União Europeia, e de outra banda, partidos extremistas novos como o Podemos em Espanha, têm-lhe tirado expressão. Aliás, pegando no exemplo espanhol, Rajoy, um conservador do centro-direita, conquistou um segundo mandato porque os socialistas perderam votos tanto para o Podemos como para um novo partido centrista, o Ciudadanos.

Os trabalhistas ingleses e os socialistas franceses não têm conseguido conciliar as diferenças entre as suas bases eleitorais e a classe média em temas emergentes como a imigração, facto que tem provocado a debandada do eleitorado tradicional destes partidos para o Partido da Independência do Reino Unido e para a Frente Nacional de Marine Le Pen. Na Polónia, a esquerda fragmentou-se tanto em 2014 que perdeu significado e facilitou a vida ao partido democrata-cristão e conservador Lei e Justiça, que tem agora maioria absoluta no Parlamento. Existe, porém, a exceção em Malta onde o Partido Trabalhista, sequaz da Terceira Via, ganhou com larga maioria em 2013 e renunciou à sua visão eurocética.

Se, nos EUA, onde a economia é livremente estimulada pela emissão de dinheiro, os democratas não conseguiram ganhar ao populismo de Trump, na Europa as esquerdas moderadas terão cada vez mais dificuldade, espartilhadas pelas exigências europeias, em obter vencimento nas urnas.

O modelo de governação de António Costa está pois cada vez mais isolado, e não é por acaso. É tempo de mudar a agulha para não continuarmos cada vez mais “orgulhosamente sós”.