Fillon foi “enfarinhado” durante a campanha para as presidenciais francesas. Estava em plena ação de campanha quando um manifestante lhe atirou com farinha, ao que terá comentado que esperava que fosse francesa. Uma declaração de político, claro, pois o que devia ter dito é que esperava que fosse boa. Mas também quem é que gastava farinha de qualidade com um político, para mais recebido cada vez que fala a concertos de caçarola? Deve ter sido da farinha mais barata que havia, feita a martelo e embalada à mão num dia de chuva, numa casa com um telhado cheio de goteiras.

Teve sorte, pois já se têm atirado coisas piores aos políticos. A 14 de dezembro de 2008, numa conferência de imprensa em Bagdade, al-Zaidi atirou um sapato a Bush. Cheirava mal dos pés, mas não ao ponto de ser arma química. Strauss-Kahn, Blair, Papandreou e Mubarak passaram pelo sapateado, mas o mais notável foi Alex Ferguson, que em 2003 pôs Beckham de sobrolho aberto com uma bota de futebol. Berlusconi também foi “lesionado” num comício, em dezembro de 2009: levou com a Catedral de Milão (réplica) na cara e passou a noite no hospital, com o nariz partido e dois dentes a menos. A Obama, em 2010, um apoiante mais entusiasta atirou com um livro; tinha-o escrito e “queria que o Presidente o lesse”. Atirar ovos também é moda. Em março, Macron foi brindado com um no Salão da Agricultura. Clinton levou com outro, de um manifestante antiglobalização, e tirou o casaco – já não mandaram mais. Em 2003 foi a vez de Schwarzenegger, tendo este dito ao atirador que lhe ficou a dever o bacon. Já o staff de John Prescott ficou furioso com ele por ter dado um murro ao manifestante que o atingiu. Mas o mais vulgar é, de longe, atirar tomates: Palin, Trump, a lista é longa.

Até em Portugal houve destas. Em 1993, na Amadora, Mário Rego atirou um tomate a José Ornelas quando este estava em campanha. Sentenciado pelo Tribunal a escolher entre trinta dias de prisão ou levar com um tomate na cara, Rego escolheu o tomate, mas queixou-se de apenas ter acertado no ombro de Ornelas, de raspão. Quem com tomate mata, com tomate morre – teve sorte em não ser uma dúzia, e podres. Consta que não comeu mais ketchup. Mais sorte teve a peixeira que deu com um peixe na cara de Soares, que lhe retorquiu que com a vida cara, ela desperdiçava peixe!

Aproximam-se as eleições autárquicas e o País daqui a meses vai entrar em campanha. Acredito que, nesta tradição, já haja quem esteja a guardar munição. Aqui entre nós, não tenho pena dos candidatos. Tenho pena é dos tomates!