A luta é antiga, mas a culpa é das marcas. A culpa da saturação do consumidor, dos excessos, nomeadamente de informação, relevante ou não, de dar tudo para a satisfação total – que nunca existe – e de nem sempre saber lidar com as críticas.
A verdade é que uma marca quando nasce não é para todos. É para os que gostam dela, os que se necessitam dela, os que se identificam com ela, os que a podem comprar e os que criam com ela tal empatia que não a largam, mesmo sem saber explicar porquê.
E isto acontece com tudo o que nos rodeia. Porque tudo à nossa voltasão marcas, desde o casaco à roupa interior, do que comemos de manhã ao que jantamos à noite, da televisão que vemos ao fim do dia, do canal que escolhemos ver e do programa específico que selecionamos ao sofá onde nos sentamos, à cama onde dormimos, ao carro que conduzimos, e por aí fora, sem parar.
O estudo “Meaningful Brands”, do Havas Media Group, analisou mais de 100 marcas em Portugal de dez setores de atividade. Destas, 67% podiam desaparecer sem a maioria das pessoas se importasse. Os números não são novos e volta a meia surgem num ou noutro estudo, mas se traduzirmos estes 67% em dinheiro que entra na economia nacional, talvez a coisa seja diferente. Se perguntarmos a um qualquer consumidor se se importa que a economia nacional perca uns milhões, a resposta não seria seguramente a mesma.
O problema é que o consumidor não percebe a importância económica das marcas – e que a economia é feita de marcas. Porque marcas não são apenas gigantes como a Coca-Cola. A própria empresa onde trabalhamos é uma marca, mais ou menos conhecida no mercado, mas é uma marca, registada, e legalizada à partida, e é por isso que os colaboradores devem ser os seus melhores embaixadores, algo que nem todos os patrões percebem, mas isso já é da responsabilidade de quem quer gerir bem a sua marca.
No top 10 das marcas mais relevantes, o Google surge em primeiro lugar. Sempre achei que o Google é o melhor amigo do homem, e nas mais variadas ocasiões. Em segundo o YouTube, depois a Olá, Colgate, Nivea, Compal, Mimosa, Nestlé, Mercedes e, por último, a Danone.
Duas são portuguesas e confesso que têm enorme valor pelo esforço que fizeram numa brilhante adaptação à feroz concorrência das marcas próprias, que também são marcas e de grande qualidade, há que lembrar, a maior parte ligadas ao grande consumo do setor alimentar, o que é normal. Mas há uma que salta à vista, à minha pelo menos: a Mercedes. Estar no top 10 das marcas mais relevantes é, sem dúvida, uma vitória para a Mercedes, porque nem todos os que responderam a este inquérito têm um Mercedes, mas provavelmente sonham ter um – e isso é o melhor trabalho que uma marca pode fazer, ser o sonho de um consumidor. É por isso que hoje temos cada vez mais anúncios de automóveis quase sem as máquinas, tal como acontece com os artigos de luxo, que pelos visto estão a vender mais em 2017.
A relação emocional é tudo e, por essa razão, compramos cada vez mais com o coração, gostamos de saber que aquela marca tem preocupações sociais e ambientais e que é transparente, aceitando quem gosta dela e quem não gosta. No fundo, a culpa é das marcas que, por quererem ser tão perfeitas, acabam por nos transformar miúdos mimados e mal habituados.