Dou aulas no ensino superior há mais de um quarto de século. Todos os anos conheço novos alunos, com novos sonhos, novas ambições, novas preocupações, novos comportamentos. De há uns anos a esta parte, comecei a estar particularmente atento às expetativas dos jovens que, dia após dia, me entram pela sala de aula adentro.
Se antes muitos dos meus alunos tinham a esperança de, terminados os seus estudos, encontrar um bom emprego, comprar uma casa e constituir família, hoje as suas expetativas são globalmente mais modestas, pretendendo, apenas, na esmagadora maioria dos casos, encontrar um emprego, ainda que com baixa remuneração, arrendar uma casa ou mesmo um quarto e juntar-se com alguém com quem partilhem afetos.
Os novos jovens, que pertencem a uma geração que já foi apelidada de rasca, mas que é muito mais uma geração à rasca, viram a sua capacidade de sonhar consideravelmente coartada, contentando-se com menos do que se contentavam, há um par de anos atrás, os seus antecessores.
Vivem numa sociedade que não tem muito para lhes oferecer, esperam estar na dependência dos seus pais pelo maior número de anos possível, acrescentam formações atrás de formações, muitas das quais sem qualquer objetivo prático, deambulam por entre empregos remunerados a 600 euros por mês, perdem-se nas redes sociais, caem, por vezes, na toxicodependência, na marginalidade e na quase indigência.
É triste que o século XXI, o do progresso, da globalização, seja, simultaneamente ou até por causa disso, o século da incerteza, do fim da ilusão, do esquecimento, da marginalização, do desaproveitamento de todos os conhecimentos, ou como agora se prefere dizer das competências, que os jovens adquiriram.
Os jovens que hoje terminam os seus cursos encontram-se maioritariamente perdidos, sem saber o que fazer a seguir, sem esperança em conseguir o emprego com que sonham, se é que lhes é permitido sonhar, sem saber como abandonar, se é que o querem mesmo fazer, a proteção que lhes é dada pelos pais, em casa de quem ficam cada vez mais tempo.
As sociedades são hoje frias e calculistas, assumindo a prossecução do lucro rápido e fácil um protagonismo nunca outrora alcançado, sendo os seres humanos atirados para o papel de robôs à procura de uma qualquer máquina onde se possam encaixar.
Perderam-se valores, interesses, motivações, expectativas. Vivemos dia após dia sem pensar no futuro, sem esperar por um milagre, sem acreditar que algo irá mudar.
A atual nova geração está à rasca, sem saber o que fazer, sem saber pelo que esperar, sem saber como mudar, sem se atrever a sonhar. Cabe-nos a nós dar-lhe a mão, recusando-nos a ser a “peste grisalha” que condiciona o seu futuro, antes assumindo o papel de agentes da mudança que permitem que o sol volte a raiar nos céus já amanhã.