A neutralidade das ciências, da filosofia e até do pensamento político tem sido alvo de debates tanto noutros tempos como nos dias que correm: Platão, Bacon, Popper, de entre outros, foram abordando esta problemática tendo em conta divergentes perspetivas.

Com as possibilidades com que hoje nos defrontamos, fruto do progresso da modernidade, torna-se ainda mais premente pensar em tal: a filosofia da ciência tem procurado fazê-lo. Sejamos claros, questões relativas à vacinação ou não; à tecnologia utilizada em bombas como a “mãe de todas as bombas”, que Trump deu ordens para ser lançada no Afeganistão, ou até nas explosões que quase vitimaram a equipa do Dortmund, estão intimamente ligadas com o que chamo aqui de progresso.

No final do dia, o investimento que se faz em ciência, nas suas mais diversas subáreas, tem mais a ver com um intrincado processo político, muito mais difícil de definir, do que poderíamos pensar. A técnica, tantas vezes valorizada acima da prática (chamemos-lhe assim) lida com aquilo que alguns definiram de “problemas simples”. Verdade é que, para os de nós que não temos educação formal em ciências exatas, estas questões não nos parecem assim tão simples. Contudo, e talvez “defendendo a minha dama” ou, se preferirem, “puxando a brasa à minha sardinha”, as questões quotidianas não se prendem menos sobre como aplicar as soluções que se descobriram do que com as soluções em si.

A polarização das perspetivas relativas a políticas públicas tem sido uma das grandes preocupações da maioria dos cientistas que se têm oposto à criação da conduta de Dakota nos EUA e de projetos com a mesma relacionados. Nesta saga, a defesa pública desta posição tem sido também apresentada como uma posição ideológica (a favor ou contra Trump, por exemplo), o que talvez não seja o ideal para um esclarecimento mais profundo do que se está a falar. Com este contexto em mente, importa refletir como poderemos traçar uma linha direta entre o que a ciência nos prova e a confiança que temos nos políticos que depois definem, simplisticamente para alguns, as políticas públicas com as consequências que todos temos que enfrentar. Afinal a confiança nos eleitos por parte dos eleitores nem sempre é grande, tendencialmente tem, isso sim, uma direção decrescente.

Não vivemos numa sociedade neutra e a ciência nunca o foi. Aos cientistas sociais foi dada a árdua tarefa de ter que lidar com incertezas num mundo quase imprevisível, ou, como Berstein, Lebow e Weber escreviam em 2000: “Deus deu à física os problemas simples”. Vistas bem as coisas, há uma grande medida de verdade nesta expressão.