A estupenda vitória de Macron na primeira volta das presidenciais francesas, com largas hipóteses de se transformar em Presidente no dia 7 de maio, é uma boa notícia após meses absurdos de isolacionismo, nacionalismo e estupidez. Os mais desconfiados dirão que Macron não tem experiência política e as suas ideias são confusas e perigosas. Confusas, porque não são de direita nem de esquerda, e perigosas porque minam o terreno antes estável do sistema partidário gaulês. Uma e outra das observações são parcialmente verdadeiras, mas ao invés do que se admite, não são necessariamente negativas. A contraposição esquerda/direita está há muito, nos seus pressupostos fundamentais, largamente ultrapassada. Tal como De Gaule, que em política interna era de direita e em política externa de esquerda, também Macron pode casar o liberalismo com o estado social sem que daí se gere qualquer confusão ou prejuízo. Já o fim do sistema partidário gaulês, no essencial dominado à direita pelos herdeiros de De Gaule e à esquerda pelos de Mitterrand, deverá sofrer uma necessária reformulação. Mas será prematuro dizer-se que o sistema colapsou. Não vejo grande alternativa que não a transformação do movimento “En Marche”, de Macron, em partido político, para concorrer às eleições de junho. E, nesse contexto, boa parte da estrutura desse novo partido assentará na militância socialista com um ou outros desalentado “gaulista”. Mas haverá sempre campo para a direita moderada, leia-se “Les Republicains”, para uma extrema esquerda do “pensamento mágico”, com o patusco Mélenchon a perorar, e para uma extrema direita reacionária (com a qual ninguém se coligará). Eis porque o resultado das eleições do passado domingo é uma notícia que combate o pessimismo dos últimos meses.

Mas o aspecto mais relevante para um convicto europeísta terá sido o sucesso da mensagem anti-nacionalista de Macron. É verdade que cerca de 40% do eleitorado preferiu o discurso “chavista” dos “insubmissos” e a retórica ”nacionalista” da filha do senhor Le Pen. Mas, por uma vez, soube bem silenciarmos a insolência do “America first”, do “We want our country back”, do “Maintenant  la France”. Porque nunca houve nenhum nacionalismo que não cultivasse o ódio, a rivalidade e a guerra. Que 60% dos franceses o tenham reafirmado e que boa parte deles continuem a acreditar no projeto europeu (com visões diversas, é certo, mas complementares) só nos pode motivar.