Jeroen Dijsselbloem, o então presidente do Eurogrupo e ministro das Finanças holandês, afirmou em 2017 que os europeus do Sul gastam “todo o dinheiro em copos e mulheres” e depois pedem ajuda.
Apesar da polémica gerada, recusou-se a pedir desculpa, justificando que, como social-democrata, valorizava muito o princípio da solidariedade na Europa, mas que este devia ser acompanhado de responsabilidade e esforços do país fragilizado, de molde a minorar as suas vulnerabilidades.
Será que Dijsselbloem teve razão antes do tempo? As despesas e os gastos supérfluos e incompreensíveis da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia (UE) dão que pensar.
A começar pelos ‘copos’, leia-se vinhos, a Presidência firmou um contrato com a Sogrape no valor de quase 36 mil euros para adquirir bebidas para eventos sociais, investimento que faria todo o sentido, não se desse o caso de o distanciamento social ser um dos símbolos da Covid-19.
Por esta razão e não só, decorridos pouco mais de dois meses de presidência portuguesa e num contexto de crise sanitária, económica e social sem precedentes, Portugal foi na imprensa internacional e nacional, notícia pelas piores razões.
O “Politico”, o principal jornal europeu, publicou um artigo que descreve uma “presidência fantasma”, no âmbito da qual, mesmo sem eventos presenciais e com as fronteiras fechadas, se montou um centro de imprensa vazio no Centro Cultural de Belém, que custou 260.591euros, quando praticamente todas as conferências de imprensa ocorreram via internet.
Os dados do Portal Base, que centraliza a informação sobre os contratos públicos celebrados em Portugal, mostra que a Estrutura de Missão da Presidência Portuguesa da UE fez ajustes diretos no valor de milhares de euros a empresas recém-criadas.
Um dos exemplos mais chocantes é o de uma empresa na área da construção, com um capital social de dois euros (?!) que, apenas um mês após ter sido constituída, concluía um ajuste direto de mais de 11 mil euros para pintar instalações do Centro Cultural de Belém.
Também por ajuste direto foram contratados colaboradores excluídos de concursos públicos.
E não se pense que estes contratos são apenas de serviços essenciais ou indispensáveis mas, antes, incluem milhares de gastos em brindes como gravatas, lenços de seda ou chocolates e mais um ajuste de 39.780 euros para comprar 360 camisas e 180 fatos!
Em suma, só em cerca de duas centenas de contratos celebrados por ajuste direto despenderam-se oito milhões e trezentos mil euros.
Num contexto de crise sanitária, económica e social sem precedentes, os portugueses não vão compreender e, ainda menos aceitar, estes gastos e despesas incompreensíveis.
Portugal enfrenta agora uma terceira crise, a crise moral, e são episódios como estes que envergonham todos os portugueses honestos e de princípios.