Um administrador da EDP Renováveis (EDPR), numa linguagem típica do capitalismo de compadrio, veio recentemente apelar à “bondade “dos governantes para a continuação das tarifas políticas nos “velhos” parques eólicos que vão ser renovados. Acontece que eles beneficiaram do custo fiscal das amortizações, o qual faz com que o contribuinte os ajude numa poupança fiscal que lhes permite investirem na renovação dos equipamentos.
Tais parques também beneficiaram do paraíso que tem sido Portugal para estas renováveis… pago pelo consumidor! Vê-se no relatório da EDPR que essa energia é vendida em Portugal e em Espanha, respectivamente a 92,1 e 67,1 euros/MWh. Também daí se infere que os valores unitários do EBITDA são, em Portugal e Espanha, respectivamente de 78,4 e 37,2 euros/MWh. O EBITDA é o lucro antes das amortizações, encargos financeiros e impostos e será o melhor valor para comparar entre geografias pois pode haver diferenças entre elas no tratamento contabilístico das amortizações, na fiscalidade e nos encargos financeiros.
Da electricidade produzida em Portugal, 85% está protegida dos riscos de mercado ao abrigo dessas generosas tarifas feed-in, gerando rendas excessivas! E como o próprio secretário de Estado da Energia reconhece, há excesso de capacidade instalada em Portugal. Não faz pois sentido a continuação desse regime para a renovação da “velha” eólica.
Tal excesso impede também novos investimentos em Portugal de centrais solares ao abrigo desse regime. O excesso da “velha” eólica constitui agora uma barreira à entrada da “nova” energia solar. Depois das fantasias de Manuel Pinho com grandes centrais no Alentejo de painéis fotovoltaicos chineses a custos loucos – que denunciei num artigo intitulado “O Escaldão Solar” –, a massificação da produção chinesa fez descer dramaticamente o preço desses painéis e a tecnologia solar fotovoltaica começa a ser muito competitiva para se produzir para consumo próprio nas empresas e nas famílias. Mas, para venderem à rede, os promotores deverão arranjar contratos de venda à Europa, o que infelizmente ainda não será fácil devido à falta de interligações entre Espanha e França.
Tal como no caso da eólica offshore de Viana do Castelo, que também denunciei, não faz sentido pôr os consumidores a pagar, através da tarifa feed-in, o experimentalismo de uma central solar térmica (e não de painéis fotovoltaicos) de concentração dos raios solares como os promotores querem, ao contrário do que pensava o Ministério de Moreira da Silva no governo anterior. Tais projectos demonstradores devem ser financiados por verbas para a Investigação, Desenvolvimento e Inovação, como é normal numa economia de mercado, e não pelo consumidor através da generosa tarifa feed-in.
O autor escreve segundo a antiga ortografia.