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Vistos Gold: investidores chineses em fuga. O El Dorado português chega ao fim?

Autorizações de residênciapara atividades de investimento foram um dos principais mecanismos para atrair estrangeiros nos últimos anos, com os chineses em grande destaque. Mas atrasos na concessão e renovação de vistos estão a afastar potenciais investidores. O presidente da Liga dos Chineses em Portugal, Y Ping Chow, alerta que já é visível a retração no investimento. Madrid e Barcelona são os principais concorrentes de Lisboa.
20 Maio 2017, 11h00

Anúncios em mandarim no aeroporto de Lisboa, placas de imobiliárias com caráteres chineses no centro da cidade a anunciar as condições atraentes da fiscalidade em Portugal… A febre dos vistos dourados nos últimos anos foi um balão de oxigénio precioso para um setor imobiliário atingido em força pela crise. Os investidores chineses tomaram desde cedo a dianteira nesta “corrida ao ouro”, mas começam agora a pôr um travão nos investimentos. Os atrasos na renovação dos vistos estão a empurrá-los para outras paragens.

A secretária-geral da associação China Friend, Wenyue Hu, conta ao Jornal Económico que há cidadãos chineses que esperam entre um ano e 18 meses pela concessão dos vistos Gold. Os atrasos na renovação rondam os cinco meses. “Estes atrasos têm levado muitos cidadãos chineses a ir para Espanha – Madrid ou Barcelona são os destinos preferidos – ou outros países europeus.
Conheço casos de pessoas que compraram casas a partir de 500 mil euros, pagaram todos os impostos, entregaram toda a documentação necessária, pagaram aos advogados e ainda estão à espera do cartão”, explica.

A secretária-geral da associação acrescenta que, normalmente, os “investidores acabam por espalhar as notícias dos atrasos e isso retrai os que querem vir para cá investir e que acabam por escolher Espanha”, acrescenta.

De acordo com dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), a China lidera os pedidos de Autorização de Residência para Atividade de Investimento (ARI), tendo sido atribuídas até abril um total de 3.376. “Com os casos que conheço, e não fossem os atrasos no SEF, os números poderiam perfeitamente ter duplicado”, garante Wenyue Hu.

O presidente da Liga dos Chineses em Portugal, Y Ping Chow, admite também que os atrasos têm “retraído as intenções de investimento chinês em Portugal”. Há cidadãos chineses a ponderar vender as casas que compraram em território nacional e a rumar a outras paragens.

Ângelo Monte, advogado de vários cidadãos da República Popular da China, chegou “a ter processos que duraram mais de um ano”. E, embora a situação seja “mais razóavel”, tendo em conta o que já existiu, os clientes chineses que representa mostram “desagrado” e “transtorno”.

Sobre esta situação, fonte oficial do SEF adianta ao Jornal Económico: “No que respeita aos agendamentos para atendimento no SEF de investidores e familiares no âmbito de primeiro pedido de ARI e renovação, na área de Lisboa, que é a área de maior pressão, o tempo máximo de espera para atendimento é de dois meses. Em matéria de processamento dos primeiros pedidos e das renovações em apreço, os processos completos estão a ser tramitados e concluídos muito antes dos prazos previstos na lei (90 dias para as concessões e 60 dias para as renovações)”.

O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras explica ainda que “a entrega de processos incompletos por parte dos requerentes, tendo que aguardar a documentação necessária, bem como, nalguns casos, as sucessivas notificações para apresentação de documentos em falta, muitas vezes sem sucesso ou com demora na entrega da documentação, fazendo com que a documentação que exista possa já estar caducada, levando a nova notificação, determinam tempos diferentes de resposta”.

“Tem havido um esforço continuado de redução dos prazos de agendamento para deslocação ao SEF e as medidas de reforço adotadas, designadamente o trabalho realizado pelo Grupo Extraordinário de Recuperação de Pendências, contribuíram para regular o processamento das ARI e das renovações”, acrescenta o SEF.

O visto Gold foi um mecanismo criado pelo governo anterior do PSD/CDS, em 2012, e é uma autorização para entrada e residência em Portugal atribuída a cidadãos não naturais da União Europeia, ou residentes fora do Espaço Schengen, a troco de um investimento financeiro avultado ou criação de emprego.

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