Por toda a Europa, durante as últimas décadas, a política era uma atividade exclusivamente acessível a partidos políticos consolidados e integrados nas grandes famílias europeias, herdeiros da velha dicotomia esquerda/direita. A maioria dos eleitores concentrava-se no centro político, ora votando na esquerda, ora votando na direita. O acesso à atividade política estava então condicionado por três grandes barreiras à entrada.

A primeira barreira era a legal e materializava-se nas exigências burocráticas de criação de um novo partido – como a recolha de assinaturas – e nos condicionamentos das leis eleitorais que limitavam a capacidade eleitoral passiva aos partidos políticos.

A segunda barreira era a comunicacional e materializava-se na dificuldade de passar a mensagem através dos meios de comunicação tradicionais. Os canais de televisão e os jornais tinham incentivos económicos fortes em apenas dar cobertura aos partidos estabelecidos, pois as notícias eram mais fáceis de obter e de vender.

Finalmente, a terceira barreira era a organizacional. Um novo partido que não tinha ainda acesso ao poder, não tinha direito a financiamento público e não conseguia colocar militantes em posições relevantes na máquina do estado (o que lhes permitia financiar indiretamente a atividade política). Sem financiamento e sem sustentabilidade dos seus militantes, o novo partido não conseguia manter a sua atividade durante muito tempo. Este sistema criava um monopólio perfeito para os partidos estabelecidos.

A mudança geracional, a revolução digital e as redes sociais vieram pôr em causa este monopólio e têm permitido que novos players políticos acedam rapidamente ao poder, ultrapassando com relativa facilidade as referidas barreiras.

Em primeiro lugar, com o aumento do peso eleitoral dos millennials, a velha dicotomia esquerda/direita passou a não fazer muito sentido. As novas gerações estão polarizadas em torno de desígnios mais dispersos, como a União Europeia, a ecologia, o emprego, os direitos das minorias ou as liberdades individuais. Para estas gerações, a discussão socialismo/capitalismo está completamente ultrapassada.

Em segundo lugar, com a revolução digital os desafios organizacionais, nomeadamente, a mobilização de cidadãos, a recolha de assinaturas, a angariação de fundos tornaram-se muito mais simples. Assim, as barreiras legais e organizacionais de acesso à política foram ultrapassadas.

Por último, as redes sociais desfizeram a barreira comunicacional criada pelos media tradicionais, permitindo o acesso direto de novos players políticos a uma grande massa de eleitores, de forma mais eficaz e direcionada.

A nova forma de fazer política (“Política 2.0”) e a mudança geracional ajudam a explicar a vitória de Macron e do seu movimento “En Marche” em França, a ascensão do Ciudadanos em Espanha, a vitória de Alexander van der Bellen, na Áustria, e o aumento do peso eleitoral dos partidos verdes, pró-europeus e nacionalistas um pouco por toda a Europa.

A Política 2.0 veio para ficar. Podemos qualificar os partidos de centro tradicionais como um incumbente numa indústria em disrupção. Estes partidos vão ter de se adaptar à nova realidade, tornar-se mais flexíveis, mudar a sua organização e mindset ou sofrerão pesadas derrotas, podendo inclusivamente desaparecer.