O país festeja. O Governo cavalga a onda de entusiasmo festivaleiro e entre tolerâncias de ponto e vaticínios económicos prodigiosos decreta o fim dos dramas nacionais. O povo anda contente – embora com o mesmo (ou menos) dinheiro no bolso ao fim do mês – prepara-se para antecipar o Verão.

O milagre, diz o primeiro-ministro, comprova que era possível “outra política” e que o “rigor das contas públicas” é compatível com o aumento de rendimentos. Tudo méritos da actual governação. Nada do anterior. A comunicação social anda embevecida e todos os dias multiplica alegrias. As televisões andam na estratosfera e os comentadores que há seis meses também antecipavam o “diabo” (não foi só Pedro Passos Coelho) cantam loas aos prodígios financeiros do Governo. Prodígios esses que ninguém ainda soube explicar… quiçá porque não têm explicação, digo eu, que nada sei de economia. Siga a banda pois!

Mas nem todos dormem… ou festejam. Alguns, raros, quase clandestinos, com medo de estragarem o foguetório, estão atentos. Desmancha-prazeres! Então não é que para o Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais, foi indicado pelo PS e eleito um  advogado  conhecido por, numa entrevista, ter subtraído os gravadores aos jornalistas, atitude que lhe valeu ser condenado em pena confirmada pelo Tribunal da Relação? Na altura, o referido causídico, doublée de Deputado, suspendeu até as funções de Vice-Presidente do Grupo Parlamentar do PS e de suplente do Conselho Superior de Informações, até ao trânsito em julgado da decisão judicial, segundo li. A decisão transitou, mas pelos vistos é agora irrelevante – e tal irrelevância é partilhada pela maioria parlamentar que o elegeu –  que os membros que fiscalizam os juízes dos tribunais administrativos tenham no seu currículo uma condenação por ofensa à liberdade de imprensa e informação.

Mais. Ao que li – bem hajam redes sociais – foi também proposto  pelo PS  e  para  outro órgão consultivo para-judicial, o Conselho de Fiscalização do Sistema Integrado de Informação Criminal, outro causídico, por sinal Presidente da Distrital de Santarém, condenado com decisão transitada em julgado por actos praticados enquanto Advogado. Acreditava eu que para órgãos de Estado com funções de controlo da informação criminal só alguém com uma imaculada folha de serviços, para mais exercendo a nobre profissão de Advogado, pudesse ser indicado… Pelos vistos estou redondamente enganado.

Lamento contrariar (ainda que só um bocadinho) o estado de abençoada euforia em que vivemos…

O autor escreve segundo a antiga ortografia.