As últimas semanas foram bem preenchidas de notícias que indiciam sinais à partida encorajadores para a economia portuguesa. A leitura relativa ao crescimento económico no primeiro trimestre de 2,8%, face ao período homólogo de 2016, deixa antever um ano substancialmente melhor, da mesma forma que a saída do Procedimento dos Défices Excessivos (PDE) representa um marco rumo a uma subida das notações risco do rating de Portugal, que deve ambicionar a alcançar a saída das classificações de “lixo” por parte de agências como a Fitch, Moody’s ou Standard & Poors. E este, como tenho defendido (ver artigo Sair do ‘lixo) representa um passo fundamental para garantir solidez no acesso ao financiamento externo, seja para o financiamento estatal, seja para o resto das empresas nacionais, que sem crédito ficam também com maiores dificuldades para investir.

Contudo, é preciso termos consciência do que permitiu a Portugal estar neste momento perante alguns destes números – e retirar as devidas reflexões para o futuro. A primeira evidência diz-nos que o caminho da consolidação fiscal e das reformas estruturais é um caminho que não pode ser abandonado. Foi a reforma laboral implementada em 2012 que conferiu importante impulso para uma redução sustentada do desemprego, e foi o trabalho na alteração de modelo económico que permitiu um maior equilíbrio no crescimento, via aumento das exportações – sobretudo no Turismo, que poderá (de acordo com trabalho produzido pelos analistas da Capital Economics) ter contribuído com cerca de 1% para o crescimento da economia portuguesa no ano passado (PIB), beneficiando também do infeliz catalisador que representou a deterioração das condições de segurança em destinos como França, onde as estadias recuaram quase 7% em 2016. Portugal foi o maior beneficiado, com as visitas a crescer quase 15% (em Espanha foi cerca de 12%), espoletando uma área onde o país tem vindo a investir na última década.

Para que se confirmem as melhores expectativas, é necessário manter o ímpeto reformista da economia, que foi a área onde politicamente mais se estagnou com a entrada em funções do novo executivo. E existem ainda fragilidades que não podem ser ignoradas, que estão identificadas (por exemplo pela OCDE) e que são fundamentais para que Portugal não volte a posicionar-se numa linha de tiro, caso a conjuntura externa venha a deteriorar-se ou caso o BCE decida encetar um movimento mais agressivo relativamente à subida das taxas de referência dos juros. O que exigirá um compromisso político mais duro do que até aqui e, sem dúvida, um teste de algodão à presente correlação de forças da atual maioria governativa.