Inequivocamente, estamos em guerra. Continuaremos sempre a ter entre nós quem o negue, quem relativize o que se está a passar no Ocidente e até quem procure a culpa dos ataques e das mortes dentro do próprio Ocidente. Esta postura não é nova, nada altera quanto à brutalidade dos factos, nem quanto a tudo o que é preciso fazer para travar esta guerra com alguma eficácia.
Se o ataque às Twin Towers e ao Pentágono foi uma declaração e um acto de guerra que a América não pôde ignorar, os ataques nas grandes cidades europeias têm precisamente o mesmo significado, a mesma simbologia e conduzem-nos inevitavelmente a conclusões muito semelhantes.
Os meios espectaculares que a Al Qaeda usou inicialmente, fruto da surpresa, de capacidade de planeamento, de fontes de financiamento poderosas e da impreparação da inteligência e da segurança norte-americanas, dificilmente se repetirão. O Isis é uma coisa diferente, disseminada e com um modus operandi que privilegia a repetição periódica do dano sobre tudo o resto. Se os assassinos do 9 de Setembro vieram uns meses antes para os Estados Unidos preparar a carnificina, bem mentalizados, preparados e com uma missão, os novos assassinos que perpetuam a guerra na Europa vivem entre nós, nos nossos bairros, usam os nossos transportes públicos, nasceram nos nossos hospitais, frequentam as nossas escolas e têm um bilhete de identidade europeu.
Esta guerra, em que o inimigo é um de nós, comandado à distância ou catequizado nas nossas cidades, com o à vontade que a nossa tolerância cultural e religiosa permite, é a guerra mais complexa que até hoje o Ocidente enfrentou. É uma guerra, em que mais que o domínio territorial ou político, como sempre ocorreu nas guerras anteriores, se busca a submissão civilizacional do inimigo, o aniquilamento do dito infiel.
Não tenho a menor dúvida que a esmagadora maioria dos muçulmanos são gente de bem, que os líderes espirituais do Islão são gente capaz de guiar os seus súbditos na direcção correcta e num caminho de paz. Mas também não tenho a menor dúvida que ao lado desta gente de bem e de paz, prejudicando-a e manchando o Islão, há uma enorme multitude de bandos seguidores de líderes religiosos que pregam o ódio, a vingança, a guerra e a submissão dos infiéis. Há um número cada vez maior de militantes radicais que se alimenta da tolerância ocidental, que busca nada mais do que a importação do obscurantismo que o guia para solo europeu, subjugando a liberdade e a tolerância que interpreta como devassidão e infidelidade à sua doutrina hegemónica.
Esta incompatibilidade cultural e civilizacional só pode combater-se através de uma rápida clarificação de regras e de uma enérgica afirmação da identidade europeia e ocidental. Se queremos salvar o nosso modo de vida, teremos obrigatoriamente de ser intransigentes na sua afirmação. Se queremos continuar a acolher o diferente, teremos de lhe explicar muito claramente as regras sob as quais se vive aqui. Não podemos continuar a confundir tolerância com relativismo, respeito cultural com submissão, acolhimento com permissividade. No Ocidente terá de se passar a viver segundo o padrão da civilização ocidental. A Europa terá de repensar rapidamente o seu regresso às raízes fundacionais da sua cultura e do seu modo de vida: a matriz judaico-cristã deverá regressar ao fundamento da nossa postura perante o mundo.
A segurança e a inteligência terão de ter apoio político e reconhecimento popular. Teremos de estar preparados para maior vigilância da Web, maior controlo na circulação de pessoas, bens e capitais, e para um papel mais presente e decisivo dos serviços que garantem a nossa viabilidade enquanto sociedade.
Não é o que desejávamos, não é sequer o que o nosso percurso civilizacional merece, mas não estamos sós no mundo. Para salvarmos o que resta de nós, e podermos continuar a acolher e integrar quem merece, o realismo terá de se sobrepor ao relativismo oco que nos torna patéticos. A bem do Ocidente, e de todos os que o vivem, sem excepção.
O autor escreve segundo a antiga ortografia.
* Título roubado a um livro de leitura obrigatória nestes dias, da autoria de Roger Scruton.