A social-democracia europeia atravessa um dos seus piores momentos. A crise de 2008, que durante breves instantes gerara a ilusão da recuperação do modelo keynesiano, foi-lhe fatal. Apesar de as lideranças europeias, com o governo alemão à cabeça, terem chegado, no Conselho Europeu de Dezembro de 2008, a apelar a algum investimento público para suprir a contracção dos privados, rapidamente se tornou evidente que a variável “moeda única” tinha alterado silenciosamente o panorama. Uma estratégia atabalhoada e contraditória de investimento público, problemas estruturais nos Estados e a crise da banca aceleraram a hecatombe das dívidas soberanas e abriram espaço para que a Europa desse o dito por não dito e enveredasse por uma lógica abertamente liberal.
O socialismo democrático foi apanhado, neste processo, em contramão e obrigado pelas circunstâncias a uma estratégia esquizofrénica de retirada acelerada do Estado da economia e de aplicação de políticas restritivas. Para memória futura ficariam os penosos fins de mandato dos outrora referentes do socialismo europeu, como o espanhol Rodríguez Zapatero, o grego Yorgos Papandréu e, mais recentemente, François Hollande. Os dois primeiros terminaram as respectivas carreiras políticas elogiados pela ortodoxia liberal europeia e desprezados pelos respectivos militantes e simpatizantes. O PASOK desapareceu e o PSOE abriu o flanco para o aparecimento do Podemos. O PS francês ficou reduzido à insignificância.
Quase uma década depois do início da crise, o centro-esquerda ainda não conseguiu voltar a reencontrar-se. Partidos de centro e de direita dominam confortavelmente a arena política de vários países, assumindo as despesas do combate ao populismo e aos extremismos, como ficou patente na recente eleição presidencial francesa e nas legislativas holandesas. A situação é sui generis ao ponto de uma formação completamente desacreditada pela corrupção, o Partido Popular espanhol, conseguir manter confortavelmente o poder com uma maioria parlamentar muito estreita e um orçamento de Estado aprovado a meio do ano.
Neste contexto, os militantes e simpatizantes de vários partidos socialistas parecem ter desistido do pragmatismo que os levou a aproximar-se do centro e apostam em lideranças ideologicamente marcadas, como Pedro Sánchez em Espanha e Jeremy Corbyn no Reino Unido. O gesto, a curto-prazo, poderá significar permanecer na oposição, mas, a médio-prazo, talvez seja a única alternativa à insignificância política.
O autor escreve segundo a antiga ortografia.