Apesar dos esforços dos últimos anos, a banca permanece uma área fragilizada que apresenta desequilíbrios difíceis de gerir, e que podem trazer dissabores para a economia portuguesa, adiando a necessária subida das notações de rating das principais agências internacionais, e limitando a capacidade de crescimento da economia portuguesa.

Na banca portuguesa existe um complexo exercício de equilíbrio de gerir, quer em termos de rentabilização operacional quer na gestão do balanço, que, na prática, criam necessidades recorrentes e dificuldades de recapitalização dos mesmos. Na busca de maior eficiência há poucas dúvidas sobre o futuro próximo. Existe um excesso de recursos que importa enfrentar o quanto antes, e que parece agora inevitável. De acordo com a OCDE, os bancos portugueses têm no global 54 agências comerciais por cada 100 mil habitantes, enquanto que a média na Europa deste rácio é de 28 agências, ou seja, quase metade.  Menos agências e, consequentemente, planos de desvinculação de trabalhadores são medidas que se manterão na agenda durante os próximos tempos.

Mais complexa será a gestão de balanço, sobretudo no que diz respeito ao malparado. Ao contrário do que foi feito noutros países, durante os anos da intervenção externa da troika não existiu um programa chave que fosse direcionado a uma limpeza dos balanços dos bancos portugueses – a verdade é  que não existia na altura margem orçamental do Estado suficiente para tal.  Mas a realidade é que os níveis de malparado atingem hoje dos valores mais altos da Europa – cerca de 11,9% de acordo com dados do FMI –, e que representa um desafio de monta e urgente para Portugal, podendo trazer consequências potenciais nefastas para o futuro.

O setor e o Governo têm de lidar com este desafio. Se algumas das soluções, que passam por racionalização operacional, são hoje em dia uma realidade, mas enquadradas na lei, o mesmo não se passa com a limpeza de balanço que os bancos precisam de levar a cabo. Aqui são necessárias reformas políticas estruturais, como criar incentivos para que os bancos procedam a esta redução via write-off’s ou alienações dos malparados, mas sobretudo criando um mecanismo onde estes ativos possam ser geridos, de forma transparente, por entidades devidamente preparadas para o fazer. E é neste xadrez complexo, onde variáveis económicas e políticas se cruzam, que é necessário agir para evitar qualquer espécie de “banco-mate”.