A dívida pública aumenta a níveis mais elevados que durante o período de intervenção da troika e, por isso mesmo, apesar do crescimento económico, o país está mais pobre. Com mais dívida, há mais contas para pagar no futuro que é o nosso (ainda não sou velho) e dos nossos filhos (e netos, porque a factura é mesmo elevada).

Impressiona como pouco se aprendeu com os sacrifícios dos últimos anos. Continua a confundir-se crescimento com riqueza, riqueza com azáfama, azáfama com alegria, alegria com tolice. Um círculo vicioso que ridiculariza a crítica pensada para que, quem pensa, não seja escutado. Porque quando não se escuta não há registo, ninguém se lembra, e não há responsáveis, não há culpa, não se tiram ilações. Não se aprende. Não se muda. Insiste-se, e volta-se a insistir, no mesmo erro, nas mesmas fórmulas, nas mesmas pessoas que se escapam porque ninguém é responsável do que quer que seja.

Esta crónica não é sobre a farsa política que vivemos, mas sobre o modo como a aceitamos. Vezes  sem conta me questionei se o nosso presidente, na sua azáfama, e o nosso primeiro-ministro, com o seu sorriso, não seriam uns tolos que nos governam. As viagens juntos, os elogios mútuos, um a segurar o guarda-chuva do outro era mau de mais para ser verdade. Porque sou liberal considero que o poder do Estado deve ser exercido com dignidade. Qual o interesse em assim não ser? E foi pensando nisso que concluí que, talvez, tolos não fossem aqueles dois, mas os portugueses, ou a maioria deles que neles acreditam.

“Só dança quem está na roda”, respondeu Marcelo quando lhe indagaram sobre a nega que levou do presidente do Brasil. A nova versão do “quem não está, estivesse” relativo a um presidente doutro país que pode deixar de estar é uma chamada de atenção para os que não alinham na festa. Quem não está, perde. Isto não é tolice, é mais que isso, é perverso, é vicioso. É tomar o povo por tolo que se intruja com palmadinhas nas costas, selfies e deixem lá isso que isso agora não interessa nada. É grave.

Mas será o povo tolo ao ponto de não saber que está a ser enganado? Ou será que entra na roda não para dançar, mas para sobreviver? Aguentar porque com estas elites não vamos lá e de nada vale fazer doutra forma. Se não os podes vencer junta-te a eles. O povo também sabe da vida, não é só Marcelo. Tolo é, pois, quem não alinha. Quem não entra na roda e não dança. Pode ser, mas e a dignidade? E a dívida que não quero que o meu filho tenha de pagar? Os pais e avós que lêem estas linhas não se importam com o que os seus filhos e netos pensarão deles? Ou será que também eles vão aprender a manha do desenrascanço de quem se aguenta no meio disto?

O autor escreve segundo a antiga ortografia.