(Não alinho no discurso desculpabilizador de que tudo foi feito pelos que morreram em Pedrógão. Bastaria uma pessoa ter morrido para considerar que mais haveria a fazer. Não alinho, também, no discurso que pede que rolem cabeças. Os incêndios no Verão são, diga-se, um problema que nenhum Governo até agora resolveu em termos minimamente aceitáveis.)
No momento em que estas linhas forem lidas, muito provavelmente estará já contabilizado o rescaldo do incêndio de Pedrógão e as suas vítimas atiradas para o esquecimento da opinião pública.
Sem desmerecer os sentimentos que esta tragédia gerou entre nós, a verdade é que todos os anos a história se repete, como se o triste fado de Portugal fosse ter cheias no Inverno e incêndios no Verão. O nosso eterno fatalismo e, paradoxalmente, o optimismo militante em que mergulhamos fazem-nos esquecer cada episódio de fogo, quer tenha a chamada “mão humana”, quer se deva a causas naturais, ainda que saibamos de cor que se repetirá no ano seguinte.
Os anos correm e os incêndios galopam, para mais numa floresta que, cada vez mais, é constituída por eucaliptos, que são as espécies preferidas para a indústria do papel mas que apresentam o inconveniente de queimarem muito mais depressa.
Se em termos preventivos, pouco ou nada se faz, em especial no que se reporta à limpeza das matas, a perplexidade é maior quando se atenta na particular forma como o combate às chamas se faz em Portugal. Prescindindo-se da Força Aérea, a qual dispunha de profissionais e de meios necessários, por algum motivo que escapa ao comum dos mortais, o Estado apostou na contratação com privados. Curiosamente, o mesmo Estado acabou condenado em tribunal arbitral no pagamento de vários milhões a esses mesmos privados, tendo sucedido mesmo o absurdo de a ANPC ter sido objecto de penhora por não haver liquidado o montante de uma das condenações, respeitante aos famosos Kamov, que, na sua maioria, continuam no chão.
Como se não bastasse, entretanto foi criada uma entidade que serviria para controlar os ditos meios aéreos, a EMA, a qual, após estar dotada de um pomposo Conselho de Administração, veio a ser extinta, sem que nunca tivesse ficado claro a quem servia e, claro, a quem (se) serviu. Por seu turno, os bombeiros deparam-se com manifesta falta de meios, muitas vezes assentes apenas na sua coragem e na boa vontade, já que os ditos milhões parecem estar reservados para litígios com empresas privadas, contratadas para fazerem o que todos vemos ser escassamente feito, isto é, o combate ao fogo por aeronaves.
A quem interessa que a tónica seja colocada no combate aos fogos e não na sua prevenção? Neste caso, como em muitos outros, a resposta poderá ser encontrada no velho adágio “Follow the money”.
A autora escreve segundo a antiga ortografia.