Vamos ter calma, respirar fundo e voltar ao básico, àquilo que os nossos pais nos ensinaram: o respeito pelo próximo, perceber onde termina a nossa liberdade e começa a do outro. Bem sei que em certas situações pode ser difícil perceber esse limite, mas noutras não.
E nesta trágica e pesarosa semana percebemos isso. O acompanhamento jornalístico que foi feito dos incêndios em Pedrógão Grande só foi daquela dimensão porque a tragédia humana foi inigualável. E, sim, todos tinham de acorrer ao local para ver, ouvir e informar. É isso que faz o jornalista ou, pelo menos, é isso que deve fazer. Mas não foi só isso que foi feito, foi muito mais que isso, foi demais.
Bem sabemos que nós, portugueses, amantes de fado e da saudade, somos trágicos, dramáticos. É por isso que quando existe um acidente de um lado da estrada, no outro forma-se uma fila de carros quase do mesmo tamanho, porque todos abrandam para ver. É também por isso que quando existe um incêndio de grandes dimensões muitos correm para ver o fogo. Ver o quê? A tragédia. E o que fazem? Atrapalham o trabalho dos bombeiros e da proteção civil. Porquê? Por nenhuma razão lógica. Qual o resultado? Muitas vezes trágico, como aconteceu esta semana.
Mas, ao que parece, esta veia portuguesa, trágica e dramática também está cada vez mais presente no jornalismo português. E é pena.
É pena porque são cada vez menos os jornalistas, as redações, os meios. E se são poucos, pelo menos que sejam bons.
O problema é que os bons são que mais sofrem, com a falta de audiências, de financiamento, de vendas. Aqui vem a eterna questão do ovo e da galinha. Quem tem culpa? O público que gosta de tragédia ou os órgãos de comunicação que a dão gratuitamente, ou por uma obrigação de faturação?
Pessoalmente, defendo liberdade acima de tudo. Escolho o que compro e o que vejo, e a verdade é que todos podemos fazer essa escolha, mas não é fácil quando a tragédia está a passar a cores no canal ao lado ou quando, em vez de uma capa de jornal a negro, se tem uma outra repleta das fotos do Facebook dos mortos e desaparecidos. Lá estão as redes sociais. Ferramenta tramada essa que mantém vivas páginas de mortos e é tão usada por todos para um julgamento sem fim, sobre tudo e todos.
Muitas emoções se exploraram esta semana, de forma excessiva, cansativa. Uma fórmula que não faz mais do que desgastar as grandes marcas do jornalismo, sejam elas televisões, jornais ou pessoas. Muito se debateu sobre o tema, de forma mais ou menos informativa, mas será que esse desgaste vale a pena? Tenho dúvidas.
Fui jornalista até há bem pouco tempo, durante 13 anos. Não é uma profissão fácil, e hoje vive dias difíceis, mas é precisamente por isso que é preciso ter calma, respirar fundo e voltar ao básico. Porque, no fim do dia, somos todos pessoas.