A inserção de doutorados nas empresas continua a ser um desafio para o nosso país, apesar dos apoios à contratação deste capital humano altamente especializado e de uma maior sensibilidade do tecido empresarial para a importância da inovação como fator de competitividade. Os últimos números indicavam que apenas 4% dos doutorados em Portugal estavam a trabalhar no setor privado, sendo esta uma das mais baixas percentagens da UE. Para se ter uma ideia, na Dinamarca, 38% dos doutorados estão integrados em empresas.

As causas da baixa empregabilidade dos doutorados nas empresas são facilmente identificáveis. O nosso tecido empresarial é constituído esmagadoramente por micro e pequenas empresas, que não têm nem recursos nem massa crítica para rentabilizarem a contratação de doutorados. Acresce que há uma série de preconceitos associados aos doutorados dentro das empresas: diz-se que auferem salários elevados, que não têm visão empresarial, que lhes falta pragmatismo, que carecem de capacidade de gestão…

As startups, por seu turno, estão ainda a consolidar os seus modelos de negócio e, nesta fase, é porventura mais vantajoso estabelecer parcerias na área da inovação com unidades de I&D das universidades, ao invés de contratar doutorados a tempo inteiro. Não obstante, muitas startups intensivas em conhecimento são criadas por doutorados ou empregam doutorados, sendo esta massa crítica essencial para o scaling up destas empresas.

Que não haja dúvidas: a presença de doutorados nas empresas é uma mais valia. Pelas competências especializadas e diferenciadas que possuem, os doutorados podem ajudar as empresas a desenvolver novos processos, produtos e tecnologias. Além disso, introduzem nas empresas competências cruciais à sua competitividade, como a inovação, a I&D, a gestão, o marketing, o design ou a criatividade. Por fim, os doutorados são interlocutores qualificados das empresas em parcerias com instituições do sistema científico e tecnológico nacional.

A inserção de doutorados é vantajosa quer nos setores tradicionais, quer nos setores mais inovadores. Nos primeiros, o contributo dos doutorados é importante para a modernização tecnológica, para a subida na cadeia de valor e para a adequação dos modelos de negócio ao ambiente digital, por exemplo. Já nos setores mais inovadores, a necessidade de conhecimento obriga as empresas a ter nos seus quadros quem disponha de capacidade de produção científica e desenvolvimento tecnológico, de forma a responder às rápidas mudanças do mercado high-tech.

Naturalmente que a inserção dos doutorados é, pelo que já aqui referi, um processo complexo no atual estádio de desenvolvimento do nosso tecido empresarial. É que, por muita boa vontade que se tenha, os doutorados só servem às empresas se as suas competências corresponderem a necessidades efetivas da atividade empresarial. E isso nem sempre acontece, dado o desfasamento de interesses que ainda existe entre a realidade académica e a realidade empresarial.

Perante este desfasamento de interesses, a melhor solução para a inserção de doutorados parecem-me ser os programas doutorais realizados dentro das empresas e com a sua estreita colaboração. Desta forma, conciliam-se os interesses de ambas as partes: os doutorados encontram nas empresas não só um objeto de estudo, mas também uma potencial via de integração e realização profissional; já as empresas têm a oportunidade de trabalhar com quadros altamente qualificados, que, durante o doutoramento, vão desenvolver projetos pensados para situações concretas da atividade interna e, uma vez terminada a pós-graduação, podem ser contratados, com a vantagem de possuírem experiência no terreno.