Faz esta semana um ano que os britânicos disseram ‘sim’ ao Brexit. Uma decisão dura para a União Europeia, numa fase em que se encontrava fragilizada e que podia espoletar uma cadeia de eventos imprevisíveis. Se recuássemos a esse verão, além do Brexit, teríamos pela frente uma possível crise no setor financeiro italiano, o surgimento do populismo na Europa com particular preocupação sobre França, a crise dos refugiados e uma economia anémica.
Todos os fatores culminavam na possibilidade de uma crescente desintegração europeia. A Europa era uma região pouco desejada como destino de investimento e por isso os índices acionistas marcavam mínimos de mais de um ano.
No ano que se seguiu os problemas do setor financeiro emergiram, os candidatos populistas chegaram longe nas eleições, a onda de ataques terroristas intensificou-se e a economia tardou em recuperar. Mas a Europa reagiu de forma sublime: os reguladores financeiros acompanharam as várias fragilidades e procuraram soluções para a estabilidade geral, sendo o caso do Banco Popular uma boa ilustração disso. A recuperação económica está a ganhar tração, dando razão à política monetária pouco ortodoxa do BCE, e os eleitores divergiram de extremismos numa fase propícia ao oposto.
A história tem vários exemplos de períodos de recessão e desigualdade social que levaram a populismos e conduziram extremistas ao poder. Na Europa, as condições para tal estavam reunidas, mas a região elevou-se e deixou para trás opções que podiam levar a caminhos obscuros. O pior já passou e, por isso, é motivo para estarmos orgulhosos enquanto europeus.
Os índices acionistas compensaram com retornos de mais de 20% durante o último ano, refletindo a melhoria das expetativas. Se há um ano o futuro era escuro e repleto de riscos, hoje está iluminado na Europa. Passámos de uma das regiões com mais instabilidade política e económica, para das que tem melhores perspetivas para o próximo ano.
A economia deverá continuar a recuperar sem gerar pressões inflacionistas, o que dá flexibilidade ao BCE para manter uma política monetária expansionista se o considerar necessário. O novo panorama político (fresco e mais unido) permite à região continuar a resolver os problemas (ainda existem alguns), e até dar novos passos no sentido da integração. Condições que devem continuar a gerar otimismo e a incentivar o investimento. Estamos a entrar numa fase do ciclo económico claramente mais positiva, onde os riscos parecem ser unicamente externos.
É, no entanto, altura para arrefecer as expetativas em relação às ações. Os mais de 20% obtidos nas bolsas europeias no último ano só se repetirão se houver mais uma melhoria das expetativas, equivalente à anterior, o que me parece difícil. Os tempos são melhores na economia, mas isso já está a ser antecipado nos mercados. É por isso altura de ajustar as expetativas para um ano menos chorudo nas bolsas.