Em Setembro, Lawrence John Ripple assaltou o Bank of Labor de Kansas City, no quarteirão ao lado do da esquadra de polícia, e foi preso na hora, porque, depois de ter roubado 2.924 dólares, se sentou no átrio do banco à espera da polícia. Não foi amadorismo, medo ou algum aterrar na realidade por, septuagenário, estar a cometer uma ação vil no entardecer da vida, foi querer ser preso para se livrar da mulher. O problema para ele veio ao ouvir a sentença: foi condenado a seis meses de prisão domiciliária.
Não há dúvidas que estes juízes americanos têm um conceito especial da justiça, uma espécie de crime e castigo dos tempos de hoje, ou talvez um sentido de humor pervertido destinado a levar o criminoso a repudiar a vida de crimes, se bem que para crimes menores. Uma espécie de “antes prevenir que remediar” praticado ex post, encerrando em si mesmo uma contradição na génese para garantir a não prática do já feito. Perdoem-me estas palavras, nem me reconheço, a continuar assim ainda sou convidado para comentador de televisão.
Voltando aos factos, e em suporte da minha tese sobre a justiça americana, em 2003, Jessica Lange e Brian Patrick, ambos com 19 anos, roubaram a estátua de Jesus duma cena de Natal da igreja e foram condenados pelo juiz Cicconetti a 45 dias de prisão e a dar a volta à cidade a passear um burro com um cartaz que dizia “Sorry for the jackass offense”. Este mesmo juiz já em 2002 tinha condenado um homem que chamou “porco” a um polícia a ficar numa esquina da cidade em pé, com um porco ao lado e um cartaz que dizia “This is not a police officer”. Em Fort Lupton, no Colorado, o juiz Paul Sacco condena aqueles que andam de carro com a música em altos berros a ouvir Barry Manilow e Dolly Parton. No Ontário, Canadá, Steven Cranley foi preso por agredir a ex-namorada, pois não conseguiu lidar com o sentimento de rejeição; o juiz Rhys Morgan condenou-o a não ter namoradas nunca mais. Em 2005, em Niagara Falls, o juiz Robert Restaino ouviu um telemóvel a tocar no tribunal e não esteve com meias medidas: como o faltoso não se acusou, mandou prender toda a audiência.
Isto está a pegar-se, pois aqui ao lado, em Málaga, um juiz da quinta vara deu a um jovem de 25 anos que pôs os pais em tribunal, reclamando uma pensão mensal de 400 euros, 30 dias para sair de casa deles e arranjar um emprego. Agora chegou a Portugal. Estamos a americanizar-nos: quisemos mudar o governo e também fomos condenados a prisão domiciliária. Eu já nem me mexo, nem quero pensar no que pode vir a seguir.