Na passada quarta-feira, o sexto episódio do programa Fronteiras XXI dedicou-se a discutir a economia portuguesa. Com as suas taxas de crescimento a dois dígitos, o turismo foi actividade que mereceu destaque. Estamos a falar de um sector que, em 2016, contribuiu de forma directa para 6,4% e 8,1% do produto e do emprego, respectivamente. Valores que se tornam mais impressivos (16,6% e 19,6%) se contabilizados também os efeitos indirectos e induzidos. Mais importante, as exportações de viagens e turismo são quase metade das de serviços – 16,7% das totais – e a respectiva balança apresentou um saldo de mais de 8,8 mil milhões de euros. Já há um século, Anselmo de Andrade defendia que “o dinheiro dos viajantes” era uma forma de “pagar a diferença entre o deve e haver da balança de comércio”.
Foi precisamente o critério da entrada de divisas que levou Michael Porter a escolher o turismo como representante de um cluster de serviços. No seu famoso relatório – “Construir As Vantagens Competitivas de Portugal”, mais conhecido por Relatório Porter –, embora focado apenas em Lisboa, menciona a ausência de uma imagem internacional forte e problemas ao nível da promoção. Vinte cinco anos volvidos, o panorama é bastante diferente. Portugal é um destino na moda e em grande medida isso deve-se a uma estratégia acertada, que percebeu a importância do marketing digital ou das companhias low-cost. Não foi algo que nos aconteceu, como sugeriu João Salgueiro.
Igualmente na semana passada, um comunicado do Eurostat chegou à imprensa nacional com um título a refrear os ânimos: Portugal fora dos 30 destinos turísticos mais populares da Europa. Uma análise mais fina impõe-se. Aquela seriação é feita com base no número total de noites passadas na região, independentemente da proveniência dos turistas. Ora, a maior parte das dormidas ocorre no próprio país, pelo que países mais populosos são naturalmente candidatos a ter as regiões mais procuradas pelos turistas. No entanto, se nos ativermos ao turismo externo – que do ponto de vista da competitividade internacional é mais relevante –, Portugal está no top 10, embora no nono lugar. E surge como um dos cinco destinos mais relevantes para os mercados do Reino Unido, Espanha, França e Luxemburgo. Espanha, França e Itália são mais populares. Mas são também países com uma maior dimensão territorial e populacional, logo a sua capacidade de receber turistas deverá logicamente ser superior. Rankings assentes em valores absolutos tenderão, pois, a dar-lhes vantagem. É por isso que se olha para a intensidade turística, isto é, para o rácio entre dormidas e população residente. Se o fizermos, aqueles nossos três concorrentes deixam de ocupar os lugares cimeiros, mas continuam a posicionar-se acima de nós. Também de acordo com o Fórum Económico Mundial, que usa um conjunto de indicadores, eles nos superam, mas Portugal está entre um dos 15 destinos turísticos mais competitivos do mundo.
Em 1911, o arquitecto francês Henri Martinet previu que Portugal viria a ser um dos primeiros países do turismo. Não parece que estivesse errado. Fazer do sector turístico um sucesso não foi obra do acaso, exigiu visão, planeamento, inovação e trabalho. Manter esta evolução positiva e tornar estes resultados sustentáveis requere-os ainda mais. Acredito que actividade goza em Portugal de condições muito favoráveis ao seu desenvolvimento. Michael Porter colocou-a no seu diamante. É preciso lapidá-lo.
Nota: Vera Gouveia Barros escreve segundo a ortografia anterior ao acordo de 1990.
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