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O Antropólogo Inocente: Insólito e divertido

“Aquilo que tinha realmente provocado a minha declaração de guerra aberta foi a descoberta de que estavam aninhados escorpiões num cato da cabana onde eu mantinha o meu par de sapatos suplementar. Tendo-lhes pegado com total inocência, fiquei aterrorizado quando um grande escorpião saiu dali a abocanhar e veio direito a mim.”
21 Julho 2017, 11h00

“Uivando da forma menos masculina possível, retirei pela porta, onde estava uma criança dowayo com cerca de seis anos que olhou para mim, na chacota. (…) A criança espreitou para lá e com uma expressão de profundo desdém esmagou os escorpiões com os pés descalços.”

Este é um excerto do primeiro livro de Nigel Barley, “O Antropólogo Inocente. Notas Vindas de uma Cabana de Lama”, editado em português pela Fenda, que lhe granjeou fama imediata. Deste excerto se depreende o humor, tipicamente britânico (que nos recorda David Lodge na ironia com que relata os meios académicos), que o autor destila ao longo de toda a sua vasta obra, dedicada sobretudo a África e à Indonésia, onde viveu e desenvolveu trabalho de campo na sua área, a Antropologia.

Após uma licenciatura em Línguas Modernas, em Cambridge, estudou Antropologia em Oxford, onde se doutorou. Em 1978, viajou até aos Camarões, onde trabalhou durante dois anos, estudando um grupo de montanheses pagãos do norte do país, os Dowayos, até então algo negligenciados pela comunidade de antropólogos e etnólogos britânica. Apesar de ter ficado sem os dois dentes da frente – episódio narrado de forma hilariante (há que ler o livro) –, Barley regressa aos Camarões assim que pode. Quando chegara a Inglaterra, constatara que a vida estava na mesma, que ninguém tinha particular interesse em saber pormenores da sua viagem, que toda a gente continuava a queixar-se do tempo e particularmente preocupada com os resultados do futebol.

Para um aprendiz de antropólogo, o que o livro tem de melhor é a inclusão, de forma natural, dos problemas pessoais do quotidiano que resultam das frustrações, aborrecimento, atribulações e mal-entendidos que inevitavelmente surgem quando se faz trabalho de campo. Aquando da sua publicação, o jornal inglês Daily Telegraph escreveu que Nigel Barley “faz pela Antropologia aquilo que Gerald Durrell [irmão de Lawrence Durrell, o autor de “O Quarteto de Alexandria”] fez pela recolha de espécimes zoológicos”.

A sugestão de leitura desta semana da livraria Palavra de Viajante

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