O desempenho recente do Governo da maioria de esquerda ilustra bem grande parte das críticas que lhe fazem. Festivo com as boas notícias, frágil perante as dificuldades, incapaz de resolver problemas e de os gerir com sentido de Estado e políticas de oportunidade, os membros do Governo escondem-se atrás da bonomia do primeiro-ministro António Costa. As políticas e as estratégias de comunicação carecem de conteúdo para ter sucesso. E quando se sucedem as situações de crise é natural que, mais tarde ou mais cedo, se detetem as debilidades governativas de políticas e governantes.

A falta de estratégia do Governo é gritante. Da fase inicial fortemente aplaudida pelos parceiros de maioria – Bloco de Esquerda e PCP –, em que o Governo agia por mero impulso destrutivo de tudo o que o governo anterior tinha realizado, exceto a austeridade, quando passamos à verdadeira necessidade de assumir políticas, traçar estratégias e definir opções, o Governo bloqueia.

A tática inicial deste executivo foi clara: devolução rápida de rendimentos, discurso de esperança e otimismo, revogação emblemática de medidas do governo anterior e estratégia de cortes, sem qualquer reforma estrutural ao nível da despesa pública. Assim confirmamos que a redução do défice não foi alcançada por ação de políticas, mas por draconianos cortes em áreas essenciais de investimento ou simples mas necessária despesa pública. Os resultados positivos, sobejamente publicitados e glosados, advêm mais dos efeitos de políticas anteriores em marcha do que da ação do atual Governo.

Vemos os parceiros de Governo elevar a sua voz e contestar as políticas do executivo que parlamentarmente apoiam e sustentam, na mais pura ação de hipocrisia política, para, em público, criticarem ministros e políticas – as mesmas que viabilizaram em sucessivas votações no Parlamento, desde o Orçamento do Estado às políticas setoriais que o Governo socialista apresenta. A hipocrisia política é elevada ao cubo quando os parceiros do Governo – Bloco e PCP – criticam publicamente, mas viabilizam medidas num exercício de distanciamento de preparação das eleições autárquicas de outubro e das próximas eleições legislativas.

O alegado bom desempenho governativo pode, a curto prazo, provocar um efeito contrário face à ilusão dos resultados que se esfumam na espuma dos dias. Basta recordar como um governo socialista de sucesso em tempos que lá vão, acabou num memorando de entendimento que condicionou a governação e, mais ainda, endividou o país.