O investimento em ações está normalmente associado a algum drama e emoção. Risco e volatilidade são as palavras mais frequentes nas frases que também incluem “investimento em ações” e que tendem muitas vezes a afastar aqueles que não têm o mínimo interesse nesta opção de investimento. Uma das opções que é mais considerada em alternativa às ações (por quem busca algum retorno) é o investimento em imobiliário.
O imobiliário é tido como um investimento mais ‘seguro’ por várias motivos, mas a maior parte deles são impressões erradas que não justificam a preferência face às ações. O mais comum destes equívocos é o facto dos ativos imobiliários normalmente gerarem uma renda mensal, que transmite estabilidade. A maior parte das ações também paga um dividendo relativamente estável – mesmo que anual – que também cresce ao longo dos anos. Não é a frequência da renda ou do dividendo que determina a sua atratividade, mas sim o seu retorno face ao investimento.
Outra impressão errada é a de que o preço das ações varia mais que o do imobiliário. Eu diria que, simplesmente, não são comparáveis, visto que as ações são transacionadas praticamente todos os minutos (são extremamente líquidas), dando ao investidor a oportunidade de negociar o ativo a qualquer momento que ache oportuno, enquanto o imobiliário é um ativo muito pouco líquido.
Vender um ativo imobiliário demora no mínimo dias, se houver urgência, e pode demorar anos se o investidor quiser esperar pelo preço que lhe agrada. Se as ofertas por determinado ativo imobiliário fossem registadas todos os dias, a maior parte dos dias o preço oferecido iria estar bem abaixo do preço razoável. Simplesmente porque é um mercado tão pouco líquido, existe frequentemente uma diferença grande entre os preços que os compradores estão dispostos a oferecer e o preço que os vendedores pretendem.
Outra percepção enganadora é a de que “as ações não são um ativo real, ao contrário do imobiliário”. É verdade que as ações não representam um ativo físico per se, mas representam muito mais do que isso. São uma participação numa entidade legal que detém vários ativos físicos e não físicos, que emprega pessoas que trabalham para gerar lucro usado para fazer crescer a entidade para além de remunerar o acionista, e que muitas vezes está envolvida em causas sociais, entre outras coisas. Tudo isto sem pedir nada ao detentor das ações a não ser a participação voluntária nas assembleias gerais da entidade, para votar em assuntos que lhe cabia decidir.
Deter um ativo imobiliário, por outro lado, envolve toda uma panóplia de burocracias, custos de manutenção e encargos fiscais que devem ser tidos em conta quando investir. É um erro associar a simplicidade com que se transaciona uma ação ao que esta realmente representa. É também um erro associar a complexidade de transacionar um ativo imobiliário ao retorno que este vai gerar.
Existem por vezes razões que justificam investir em imobiliário em vez de investir noutros ativos de risco, mas essas razões não são as referidas acima. A expectativa de melhores retornos líquidos (!), melhores condições de financiamento ou o maior conhecimento do mercado de ativos imobiliários face a outros ativos de risco são algumas das razões legítimas para preferir o imobiliário.