Um dos grandes desafios do Portugal pós-crise era tornar-se uma verdadeira economia aberta. Pois bem, segundo o Banco de Portugal, as exportações deverão representar 46% do PIB em 2019, quando, em 2008, o seu peso na riqueza nacional era apenas de 31%. Ora, como as importações estão também a crescer, isto significa que o nosso país tem vindo, nestes últimos anos, a reforçar de forma considerável as suas relações comerciais e financeiras com o exterior. Tal só é possível porque a nossa economia se tornou mais dinâmica, eficiente e competitiva, graças em boa medida à determinação dos empresários e ao apoio dado às empresas exportadoras pela AICEP.
Paralelamente, os dados do 1.º trimestre de 2017 indicam que as exportações não só bateram um novo recorde em valor, 19,5 mil milhões de euros, como revelam uma tendência para a diversificação dos mercados de destino e também dos bens e serviços vendidos ao exterior. Houve um significativo crescimento das exportações nos mercados extracomunitários, em particular no Brasil (mais 56%), nos EUA (mais 44%) e em Angola (mais 29%). Por outro lado, as vendas ao exterior abarcam hoje mais setores da atividade económica, juntando às indústrias tradicionais (automóvel, papel, têxtil, calçado, combustíveis, turismo…) produtos inovadores de elevado valor acrescentado.
No entanto, ainda é cedo para perceber se esta evolução das exportações é estrutural ou meramente conjuntural. Acresce que países europeus com a nossa dimensão, como a Irlanda, a Bélgica, a Holanda, a Estónia, a República Checa, a Eslovénia, a Lituânia ou a Letónia, por exemplo, têm já um nível de abertura das suas economias de quase 100%. Temos, pois, que recuperar deste atraso para nos afirmarmos na atual economia globalizada, sendo certo que a ameaça protecionista nos EUA, o impacto do Brexit, a incerteza política no Brasil, a instabilidade em Angola e as próprias dúvidas sobre o futuro da UE podem tolher o crescimento das nossas exportações.
Independentemente da evolução da procura internacional, Portugal deve prosseguir o esforço de abertura da sua economia, mas mais pelo lado das exportações do que pelo das importações. Um crescimento das importações superior ao das exportações prejudicará o excedente comercial português, com reflexos, por exemplo, na sustentabilidade da dívida externa. Sendo o aumento das importações resultado da retoma do investimento e da melhoria do rendimento das famílias, a única forma de não degradar a balança de bens e serviços é, de facto, acelerar o crescimento das exportações.
Acontece que, segundo a Informa D&B, as empresas exportadoras correspondem a apenas 11% (pouco mais de 33 mil sociedades) do universo empresarial português. Por outro lado, em 2015, as 100 maiores empresas exportadoras concentraram perto de 44% das exportações e as cinco maiores foram responsáveis por 15,9% do valor transacionado no exterior. Perante isto, há que desenvolver um esforço nacional de alargamento da base exportadora, incentivando mais empresas a exportar, nomeadamente PME e startups.
Importa, pois, criar em Portugal um ecossistema que incentive as PME e startups a apostarem no mercado externo. Para além da burocracia que ainda é necessário eliminar, há que reforçar os mecanismos de financiamento às empresas exportadoras, através de linhas de crédito específicas, seguros de crédito comercial e benefícios fiscais. Deve igualmente ser definida uma estratégia de prospeção e conquista de mercados, na qual estejam envolvidas associações empresariais que, como a ANJE, têm experiência na promoção da internacionalização.