Os meus filhos pouco veem televisão. São da geração dos tablets, do Youtube, do Netflix e das redes sociais. São os programadores do seu entretenimento e realizadores da sua informação. Tenho dúvidas que isto seja melhor para eles do que os telejornais que via religiosamente às 20:00 foram para mim, mas a evolução tem-nos levado por esses caminhos. Será que algum dia vão saber o que é Jornalismo? Duvido.
Não quero parecer um velho do Restelo e acho que não sou (bom, talvez o Velho do Restelo seja sempre o último a saber que é…), mas tenho saudades do Jornalismo. Daquele que, de tão factual e objetivo, não podia ser desmentido. Daquele baseado em várias fontes credíveis. Daquele que nos punha a pensar e não nos condicionava o pensamento. Daquele jornalismo de investigação que não tinha uma agenda e que dava palco a diferentes versões sem ter uma qualquer ideia preconcebida. Daquele que fugia das agências de comunicação. Daquele que era talvez menos artístico do que o atual, mas claramente mais rigoroso.
É a evolução, dizem-me. Mas a evolução deixa sempre alguns saudosismos e acho que este não é só meu. Pessoas com inteligência e serenidade para apreciar Jornalismo começam a arranjar opções de entretenimento e informação alternativas. Ou seja, deixaram de comprar os jornais que durante décadas foram a sua referência de informação. Não porque não os possam ou queiram comprar, mas porque se fartaram. Fartaram-se da manchete fácil e chocante que depois tem pouco conteúdo nas páginas do jornal. Fartaram-se da opinião travestida de jornalismo. Fartaram-se do tabloidismo reinante e da manchete “popularucha”, e cansaram-se desta permanente guerrilha de informação e contrainformação que não nos deixa processar. Se isto é Jornalismo então não precisam de consumir meios de comunicação social, basta estarem no Facebook.
O Jornalista é uma “espécie em vias de extinção”. As razões são múltiplas, mas destaco três. Em primeiro lugar, a evolução fez com que a atividade se tornasse dificilmente rentável e pouca rentabilidade leva à proletarização. Uma profissão com esta responsabilidade tão mal paga degrada-se como profissão e passa a ser uma missão, mas só alguns têm perfil para ser “missionários”. Em segundo lugar, a comunicação social passou a concorrer com a velocidade e a falta de rigor das redes sociais. Em terceiro lugar, também por culpa da prática judicial em Portugal, tem-se confundido liberdade de expressão e de informação com anarquismo de expressão e irresponsabilidade de informação. Na verdade, a impunidade é um dos principais fatores de descredibilização do Jornalismo e que leva a que “jornaleiros” e jornalistas naveguem todos no mesmo barco.
Sei que este cenário é de um pessimista, mas acredito que estas saudades do Jornalismo, que não são só minhas, podem dar esperança de que existe um mercado sedento de qualidade. Acredito que há espaço para Jornalistas e para projetos que desistam de concorrer com os nossos posts ou tweets desbocados e que nos tragam informação credível, rigorosa e bem tratada.