Alguém tem de ter mão na Lapa. Claro que sabemos que depois das autárquicas virá quem reconstrua o caminho do PSD para o digno lugar que sempre desempenhou na política portuguesa. Mas, enquanto não vem quem acabe com a agonia do partido e de Pedro Passos Coelho, a liderança e a bancada parlamentar devem repetir dez vezes: não farás política com as vítimas de Pedrógão Grande. Porque uma vez claramente não chegou.
Ouvimos Passos Coelho, um dia depois da tragédia de Pedrógão, ir atrás de um rumor de um militante do PSD, com funções na Santa Casa da Misericórdia, que, qual porteira, dizia que teria havido suicídios. Jurava que lhe tinham dito os habitantes. Mas percebera mal. Foi com um sentimento de vergonha alheia que vimos, primeiro, Pedro Passos Coelho tentar fazer política com a desgraça que se abateu sobre aquelas famílias e, depois, desculpar-se pela precipitação. Como se, mesmo que fosse verdade, tivesse o direito de usar essa tragédia como arma de arremesso político. O PS até fez um teste de popularidade e, claro, passou com distinção.
Agora, voltamos ao mesmo. Ouvimos um ultimato absurdo do PSD a dar 24 horas ao Governo para apresentar uma lista de nomes das vítimas porque, afinal, o número pode ser maior e o Governo ocultou, numa manobra de “gestão política”, como lhe chamou o novo líder da bancada parlamentar. A ser verdade, gritarão: o Governo mentiu! Mas o povo não os entenderá, como não entendeu à primeira tentativa de instrumentalização política de Pedrógão Grande. Conseguirão apenas e tão-só a proeza de aumentar a incredulidade com que hoje o seu eleitorado olha para cada declaração dos responsáveis do partido. Porque a “gestão política” de que fala o PSD soa mais a oportunismo político do mesmo PSD.
Mais. Com este ultimato para que uma lista de nomes que está em segredo de Justiça seja revelada pelo Governo, que está o PSD a dizer? Que o Governo ignore o segredo de Justiça? Ou que interfira no processo pressionando o Ministério Público?
Já chega deste desnorte. Há um eleitorado de direita à espera do regresso do PSD. Que fala de economia. Que diz que Estado quer. Que é Governo ou pode sê-lo. Basta deste PSD de mulher despeitada que, desde que foi traída – quando perdeu o Poder tendo vencido as eleições – ainda não se recompôs. Até outubro, o tempo é de controlo de danos. Oposição responsável, séria, nos temas que, de facto, se pede oposição. Continuamos sem saber o mais importante sobre Pedrógão. Eis as duas únicas perguntas para as quais os portugueses querem respostas: o que causou o incêndio e o que vamos fazer para que o combate aos fogos tenha alguma hipótese de sucesso.
Em vez disso, deixaram que a Geringonça controlasse o debate e, um mês depois, eis-nos a aprovar à pressa uma boa parte de uma reforma florestal que, só por milagre, acertará na solução, por esta ter sido decidida da pior forma quando se trata de problemas desta natureza, que pedem pragmatismo e não cegueira ideológica.