A nova presidente executiva da Allianz Portugal regressa, depois de uma experiência em Espanha, para potenciar o trabalho que a seguradora tem feito de desenvolvimento da relação com os intermediários e de foco no cliente, mas te como objetivo crescer. “O nosso objetivo é de expansão”, afirma. Licenciada em Matemática e mestre em Ciências Atuariais e Riscos Financeiros, Teresa Brantuas vai liderar a introdução de novos produtos no mercado, que requerem especialização, e a concretização da nova plataforma digital, com dois pressupostos: simplicidade e produtividade.
A Allianz Portugal teve lucros marginais em 2016. Como vai ser 2017?
Nós, em 2017, fechamos o primeiro semestre cumprindo os valores do plano que tínhamos para este ano. Ou seja, o valor da rentabilidade que obtivemos no final do primeiro semestre está de acordo com o planeado.
Em 2016, a Allianz Portugal registou 698 milhões de receita de prémios e 10,1 milhões de euros de resultado líquido, atingindo 6,5% de quota de mercado global, com 939 mil clientes. Para 2017, projetamos obter um lucro de 40 milhões de euros para todo o ano.
E em termos de produtividade, ou seja, de prémios?
Em termos de prémios, estamos acima do planeado. Em 2016 tivemos um crescimento de sensivelmente 10% no mercado Não Vida. Para este ano prevemos um crescimento de sensivelmente 5% no final do exercício.
No ramo Vida, o crescimento é marginal, em linha com o nosso objetivo, porque estamos numa fase de transformação do negócio de Vida, dentro dos requisitos da Solvência II. O que pretendemos é passar de um negócio de elevado consumo de capital, com muitas garantias, para um negócio mais ligado à proteção e seguros ligados a fundos de investimento.
A Allianz está a crescer em Portugal?
Em Não Vida sim, em Vida não. Nos ramos Não Vida estamos a crescer acima do mercado e do que foi o ano passado, mas em Vida não. O compromisso que temos é ter um mix de prémios entre os produtos que trazem valor para nós e para os nossos clientes mais adequado.
Allianz mantém 8,425% do BPI e decidiu não vender na OPA do CaixaBank. Qual é o acordo que existe com o BPI? Vai manter-se?
É o grupo Allianz que tem essa participação. Não posso falar sobre isso, porque foi tudo decidido na Alemanha.
Mas havendo um acordo comercial a estratégia envolve a Allianz Portugal…
Não mudámos nada do acordo com o BPI. Nós vendemos aos balcões do BPI seguros Não Vida e proteção e seguros ligados aos créditos. O BPI tem 35% da Allianz Portugal, temos participações cruzadas.
O BPI vai manter essa posição na Allianz Portugal?
Essa pergunta tem de ser feita na Alemanha.
O presidente da APS tem dito que o retorno dos capitais em Portugal está muito aquém do que conseguem as seguradoras em Espanha e Itália. Parece restarem dois caminhos: consolidação para quem decidir ficar e o da saída. Têm havido algumas operações de consolidação. A Allianz poderá participar neste movimento?
A Allianz poderá participar no movimento de consolidação, mas não por essa razão [apontada pela APS]. A razão que pode levar a Allianz a adquirir alguma companhia em Portugal é mesmo porque quer crescer e porque o grupo Allianz continua a querer investir em Portugal. O nosso objetivo é de expansão.
Estão interessados em companhias de seguros só do Ramo Não Vida?
Não necessariamente. Depende do valor que resultar das análises necessárias à qualidade das carteiras.
Estão a estudar alguma companhia neste momento?
Estamos sempre a estudar.
A APS e ASF defendem um sistema de pensões combinado entre público e privado perante uma evolução demográfica adversa, devido ao envelhecimento. É esse o caminho para a sustentabilidade do sistema?
Sei que alguma coisa tem de ser feita para o sistema melhorar, para se tornar mais credível e para termos alguma segurança no futuro. A posição da Allianz é de total abertura para participar nalguma solução, incluindo a combinação entre o público e privado.
O que mudou no mercado dos seguros desde que foram adotadas as novas regras do Solvência II, em janeiro de 2016? De que forma podem os seguradores proteger-se e adaptar-se?
A necessidade de consolidação foi uma dessas mudanças. As companhias tiveram necessidade de se capitalizar e houve os movimentos de concentração a que assistimos no ano passado.
O que é que o Solvência II trouxe ao mercado?
Trouxe mais disciplina. O mercado está mais estruturado e organizado e com políticas de preço mais corretas.
Os seguros de capitalização decresceram em 2016. Num cenário de taxas de juro baixas, como podem prometer taxas altas a médio e longo prazo?
É por isso que a Allianz Portugal está a mudar o negócio do Ramo Vida, é por isso que a nossa estratégia passa pela aposta em seguros de proteção e a seguros ligados a fundos de investimento. Os produtos de taxa garantida hoje em dia não são atrativos, porque dão um valor ao cliente muito baixo, em termos de taxa de juro; têm um potencial de rendimento muito baixo para o cliente e consomem muito capital às companhias.
As seguradoras vão abandonar os produtos de capitalização com capital e taxas garantidas e vão comercializar o quê em sua substituição? Falou em fundos…
As companhias vão apostar em produtos ligados a fundos de investimento; é isso que na Europa se tem vindo fazer. Vamos fazer isso em Portugal. Já temos um produto nessa linha que é o Allianz Híbrido, que conjuga uma parte do capital garantido e outra parte com mais risco, mas com mais potencial de rendimento a longo prazo. Uma parte do capital é garantido e outra parte não é garantida, mas pode dar mais rendimento.
São produtos de longo prazo? Quão longo é esse prazo?
Nos produtos de taxa garantida o prazo era de cinco anos. Nestes produtos baseados em instrumentos financeiros de mercado, para poder depois gerar retorno e entregar participações nos resultados atrativas, o prazo é de oito, 10 anos, ou mais.
Há poupança em Portugal?
Somos mais procurados para produtos de investimento do que para produtos de poupança regular. Estamos a preparar a entrada num negócio diferente, num negócio de soluções sem garantia a longo prazo, e com maior potencial de rendimento, mas isso requer da parte da Allianz e dos nossos mediadores uma especialização. Para quando forem oferecer ao cliente conhecerem muito bem o produto e esclarecerem bem o cliente.
O mercado está cheio de reclamações de clientes que achavam que tinham o seu capital garantido… Não vão surgir os lesados da Allianz…
O risco reputacional para a Allianz é prioritário. Não arriscamos a reputação da Allianz em circunstância alguma.
A crise afetou a Allianz?
É obvio que o mercado se ressentiu, houve um período difícil, e continua difícil, melhor, mas ainda difícil. Mas na nossa companhia, em especial, não sofremos um impacto significativo. A Allianz nunca parou de crescer. Talvez por causa da confiança que os clientes têm na marca, e temos limites de risco muito controlados.
E os fundos de pensões, como é que sobrevivem nesse novo negócio?
Também entram nesse mercado, porque os complementos de reforma podem ser vendidos com garantia, sem garantia, sob a forma de fundos de pensões, sob a forma de seguros para pensões, podem e devem caber nesse novo mercado.
Quando em fevereiro último assumiu a liderança da Allianz Portugal revelou a aposta numa “grande campanha digital”. De que importância se reveste a digitalização na estratégia da empresa?
A campanha arrancou com as áreas Casa e Vida e estamos precisamente neste momento a lançar o nosso principal produto, o automóvel. Apesar de ser tão recente, temos quase tantas apólices emitidas agora do que as que tínhamos anteriormente. E quando há assim uma grande mudança, há sempre tendência para a resistência, mas não aconteceu pois estamos quase no mesmo nível e sem incidências. Tudo isto faz parte do nosso projeto digital. Achamos que se passamos para um sistema, considerando que digital significa mais fácil de usar e mais acessível a toda a gente, tem de se passar para o quase automático e muito intuitivo para os clientes e para os agentes. Logo, tem de ser feito com muita qualidade. Quem entra no sistema tem de conseguir satisfazer as suas necessidades o mais rapidamente possível, e quando acabar tem de ter vontade de fazer mais. O nosso objetivo foi, tratando-se do nosso principal produto, comunicá-lo bem aos nossos intermediários e ao banco [o BPI], e vamos, sobretudo, fazer este lançamento com muita qualidade, fazendo com que não haja incidências. E diante deste desafio e meta tão importantes estamos mesmo muito satisfeitos.
Entre a criação e a concretização, o que coube a Portugal e a Espanha?
Foi um projeto extremamente interessante de cocriação. Queremos que as plataformas sejam iguais e, por isso, existe apenas uma plataforma informática, sendo que o que é desenvolvido num país é replicável no outro. E daí ganhamos sinergias entre os dois países. Quando começámos ficou claro que não estávamos a melhorar o sistema existente, estávamos a criar um sistema novo, de acordo com as novas necessidades dos nossos clientes. Arrancámos então com equipas mistas, com portugueses e espanhóis, com as várias linhas de negócio e uma folha em branco. Primeiro, foram criadas task-forces e depois organizámos grupos especializados. Em Espanha, este produto já foi lançado há um ano e uma das sinergias esperadas é poder agora contar com esse feedback.
As novas tecnologias e inteligência artificial são um dos grandes desafios para o setor segurador. Como se posiciona a Allianz?
A estratégia do grupo Allianz, e nós em Portugal não podíamos estar mais de acordo, tanto que já o aplicámos neste novo sistema, é dar prioridade à simplicidade. E fazemo-lo logo quando reduzimos, ao menor número possível, as perguntas a colocar aos nossos clientes. Quem está a fazer uma apólice de seguro não quer que lhe perguntem sobre tudo na sua vida e que demore muito tempo. Por isso queremos, com a informação básica e simples que o cliente nos dá, e dentro do que legalmente é possível, trabalhar com recurso a bases de dados externas. No fundo, a nossa prioridade é criar uma boa relação com cliente, que seja simples e na qual falemos a mesma língua. Outra linha estratégica para a Allianz é a produtividade, nomeadamente a produtividade interna. E é aqui que começa a sentir-se a importância da inteligência artificial. Dentro do grupo já existem projetos ligados a este universo, nos quais se estudam certos tipos de modelos, de algoritmos, sobretudo em processos operacionais.
Ainda na ótica da inteligência artificial, e particularmente no segmento automóvel, como encaram os desafios da mobilidade?
Carros sem condutores… sim, está mesmo na ordem do dia; não se fala de outra coisa e é mesmo muito importante para nós. E a grande questão é: sendo o seguro automóvel obrigatório e um dos nossos principais produtos, o que é que vamos segurar daqui a uns anos? Dentro do grupo temos uma área central que dá apoio a nível tecnológico e técnico a todas as companhias de cada país e essa área já está a estudar quais serão os seguros do futuro, sobretudo aqueles que estarão ligados à questão da mobilidade autónoma e às novas economias que vão emergindo. A Allianz está muito atenta, sobretudo porque é uma empresa com responsabilidades. Por isso temos de nos posicionar na linha da frente, na vanguarda da tecnologia, para servir o melhor possível os nosso clientes.
Atualmente, a saúde é considerada como um dos segmentos mais promissores para o setor segurador nacional. Concorda?
É um dos nossos preferidos, confesso. Porque para nós é realmente uma oportunidade. A Allianz Portugal tem investido muito no serviço que presta aos clientes em termos de gestão dos sinistros, na quantidade e na qualidade dos serviços que prestamos aos nossos clientes. Desde 2009, temos melhorado significativamente a nossa gestão interna dos sinistros. Somos até um exemplo de boas práticas a seguir dentro do grupo. Há duas semanas, o grupo considerou-nos a melhor prática dentro da nossa região (Portugal pertence a uma região na qual estão Espanha, Brasil, Argentina, México e Colômbia, a IberoLatan). Já no próximo ano, vamos acolher o workshop sobre saúde do grupo Allianz, onde partilharemos os nossos conhecimentos, procedimentos e o nosso sistema. Mas na verdade, acho que temos vindo a aprender muito e que há realmente muita coisa para fazer na área da Saúde. Aliás, no âmbito da campanha digital de que falámos, a saúde é a próxima vaga de trabalho e até ao final de 2017 queremos lançar mais este novo produto para o mercado.
Artigo publicado na edição digital do Jornal Económico. Assine aqui para ter acesso aos nossos conteúdos em primeira mão.
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