Não restam dúvidas sobre os progressos que a medicina e a saúde têm registado nas últimas décadas, visíveis na fortíssima redução da mortalidade prematura, na redução da incapacidade e na melhoria da qualidade de vida dos doentes. E é inegável o excecional contributo que as tecnologias de saúde e os medicamentos têm dado a esta missão.
A manter-se este progresso, hoje é perfeitamente legítimo que uma mãe possa esperar que o seu recém-nascido viva, com saúde, até aos 120 anos… E estas são extraordinárias notícias!
Se a pressão demográfica, assistencial e tecnológica nos coloca novas necessidades e desafios, também nos oferece novas soluções quanto ao financiamento, gestão e prestação de cuidados de saúde. Se a solução não reside em “atirar dinheiro para cima dos problemas”, também não residirá em retirar o dinheiro das soluções …
Considerando o extraordinário contributo da saúde para o desenvolvimento económico e social, a perspetiva de maximização do seu benefício convoca-nos a intensa investigação na avaliação das intervenções médicas e dos seus resultados.
Uma potencial solução vem-nos de Michael Porter, conhecido economista e especialista em estratégia empresarial e competitividade, que tem alargado recentemente os seus trabalhos ao setor da Saúde.
A sua proposta traz consigo uma promessa ambiciosa; uma dramática aceleração na melhoria da produtividade na saúde. E procura materializá-la através do bem conhecido “motor” do desenvolvimento económico; a melhoria contínua potenciada pela competição (entre organizações e prestadores de cuidados) baseado no Valor produzido. Neste caso, o valor da prestação de cuidados de saúde (“value based competition“).
Se a solução parece óbvia (“you cannot improve what you cannot measure“), a dificuldade tem estado precisamente na definição e consensualização sobre o que constitui valor em cada intervenção em saúde. De facto, a complexidade da doença e do doente, e a diversidade das intervenções e a profusão de dados de saúde, tem dificultado essa consensualização.
Felizmente, a sua proposta pioneira estimulou o aparecimento de iniciativas que visam precisamente esse propósito fundamental; a definição, mutuamente reconhecida por doentes, clínicos e gestores do que constitui o Valor de uma dada intervenção, para cada tipo de situações clínicas.
E o desenvolvimento das tecnologias de informação, bem como a disponibilização de fontes de dados reais, vem dar novo alcance a este propósito. Se hoje podemos medir intervenções e resultados em saúde… é porque as tecnologias de recolha, armazenamento, comunicação e processamento de dados o permitem a uma escala sem precedentes.
Ao procurar fazê-lo, faz porventura muito mais; recentra os profissionais e as instituições na razão de ser dos cuidados de saúde: a melhoria objetiva da condição e experiência do doente.
A prazo, contribuirá para um maior consenso em torno do valor do medicamento e das tecnologias de saúde, criando os incentivos à investigação científica e clínica orientada para resultados. Criando os incentivos à aplicação eficiente dos recursos, tecnologias e medicamentos mais custo-efetivos. Seguramente, moldará o futuro modelo das relações entre a ciência, a indústria, a clínica e os sistemas de saúde.