Enquanto consultora deparo-me por vezes com situações de propostas em que o jornalista responde que acha a ideia muito interessante, mas há o problema da ‘marca’. Não percebo. Entendia se me dissessem que a ideia não teria interesse jornalístico, mas “ser demasiado marca” é algo que não consigo entender.
Venho do jornalismo económico, onde as marcas são tratadas pelo que são, empresas, economia. Talvez por isso, para mim, esta questão não faça sentido. Tal como não faz sentido quando um jornalista de televisão, por exemplo – e isto acontece em todos os canais sem exceção –, faz determinado direto num centro comercial ou supermercado e nunca pode referir ‘a marca’, diz apenas que está numa superfície comercial. Sobretudo quando quem vê consegue, na maioria dos casos, identificar bem o local onde se encontra o jornalista.
Não faz sentido, a somar à pouca simpatia que é ceder uma casa e o convidado ter vergonha de dizer quem o acolhe. Não percebo a lógica.
As marcas são o tecido empresarial português. Atrás de uma empresa está sempre uma marca, pequena, média ou grande. E o mais estranho é que quando falamos de marcas internacionais não temos o mesmo problema. Teremos algum tipo de pudor de mostrar o bom que se faz por cá? Isso não acontece só nas startups da moda, nem nas marcas com coisas bonitas para mostrar. Acontece em muitas outras, que lutam por cá estar, que começam agora a nascer ou que já cá estão há bastante tempo.
Nesse aspeto, os nossos vizinhos espanhóis são muito menos preconceituosos do que nós. E, se puderem, gritam as suas marcas alto e bom som com muito orgulho, seja uma roupa da moda, seja um detergente da loiça. Aliás, os italianos fazem exatamente o mesmo.
A mim incomoda-me mais que a cada frase de uma novela portuguesa exista uma marca para mostrar. Mas isso é outra questão. Acima de tudo, não faz sentido que não se possa contar uma boa história ou fazer uma boa reportagem só porque está ligada a determinada marca. Se assim fosse, quando nos levantássemos de manhã tomaríamos banho só com água, nada de lavar os dentes e, quanto à roupa, só se fosse feita por nós próprios. É que só até aí já passámos por umas quantas marcas e ainda nem começámos o dia. Um mundo sem marcas seria um mundo cinzento e pior, sem economia.
Ficam histórias por contar, bons exemplos por conhecer apenas e só porque estão ligados a ‘uma marca’. O que devíamos querer era mais marcas e mais histórias relevantes. Porque ainda vão surgindo sucessos ‘made in Portugal’, com mais ou menos glamour que vale a pena ler, ouvir e ver.