O grande desafio da administração da TAP, e o principal desígnio do actual Governo nesta matéria, é saber compatibilizar as exigências de um mercado muito competitivo, e a respectiva sustentabilidade, com as responsabilidades públicas que a maioria do capital determina. Foi com este argumento que António Costa concretizou a decisiva reversão da privatização da transportadora aérea portuguesa.

O governo de Passos Coelho, em plena pré-campanha eleitoral, concretizou a entrega da maioria do capital da TAP a privados, numa operação assinada pela madrugada dentro e à porta fechada, com sabor a governação de vão de escada, para confirmar mais uma privatização que empobreceu o activo de Portugal e deixou o país nas mãos de outros Estados e de outros interesses. De qualquer forma, passada que está esta fase, efectuada com competência e celeridade pelo ministro Pedro Marques, é preciso demonstrar a utilidade e o racional que imperou na reversão referida.

A natureza pública da TAP tem de deixar de ser envergonhada. Nenhum português compreende que o Estado meta dinheiro em qualquer companhia e se afaste da sua orientação estratégica.  É evidente que o dia-a-dia da companhia e as suas opções operacionais não devem ser sequer matéria da intromissão do Estado, mas as orientações estratégicas exigem “mão do Estado” e firmeza concretizadora. Para isso, é preciso transparência nos objectivos estratégicos e validação pública. Cabe aos administradores indicados pelo Estado cumprir esse papel. É por isso incompreensível, e mesmo inaceitável, que sejam anunciadas campanhas promocionais para destinos concorrentes com as regiões autónomas, prejudicando Portugal e introduzindo distorção no próprio mercado.

Este tipo de abordagem é quase provocadora, para madeirenses e açorianos, e revela uma passividade inadmissível das autoridades públicas. Mais. A TAP beneficia, bem como as outras companhias que voam para as regiões autónomas, de um modelo de mobilidade que traduz o compromisso do Estado com a continuidade territorial. É um imperativo constitucional para com as regiões e não deve significar um subsídio encapotado às transportadoras aéreas. Incompreensivelmente, a Transportadora pública não alarga a oferta nas alturas de pico da procura, estabelecendo preços de tarifas superiores a 500 euros para uma viagem de uma hora e meia. Anunciar preços “de combate” para os destinos concorrentes e manter preços elevados nas regiões autónomas, sobretudo na Madeira, não justifica o racional da reversão.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.