A criação da geringonça deslocalizou o centro de decisão política para o Parlamento; o Governo depende a todo o tempo dos entendimentos entre o PS e a restante esquerda.

Seria por isso de esperar que todos os membros da nova maioria detivessem um poder idêntico para transformar ideias em realidade. Porém, calculando a taxa de aprovação de projectos de lei (aprovados/apresentados) deparamo-nos com uma realidade bem diferente: PS 80%; PSD 41%; BE 40%; PEV 34%; PCP 23%; CDS 21%; PAN 21%.

Neste momento, um dos partidos da oposição possui um rácio superior ao dos bloquistas, comunistas e verdes. Por outro lado, o rácio do PS é o dobro do do BE e mais do triplo do do PCP. Os socialistas já conseguiram ver aprovado quase tudo o que apresentaram, o mesmo não tendo sucedido com os seus parceiros.

Apesar de votarem favoravelmente orçamentos do Estado, de contestarem e reivindicarem menos, e até de se mostrarem mais tolerantes com o que apelidam de “cedências a Bruxelas”, os partidos mais à esquerda continuam a ter uma força diminuta no Parlamento. Mas será que o frete está a ser recompensado ao nível das intenções de voto?

Comparando os valores da sondagem mais recente (Eurosondagem) relativos a Agosto de 2017, com os do mesmo mês do ano passado, encontramos as seguintes variações (pp): PS +5.3; CDS +0.9; CDU -0.2; PAN -0.3; BE -1.3; PSD -4.4. Facilmente se percebe que bloquistas, comunistas e verdes não só não estão a beneficiar com a queda do PSD, como poderão estar a ser absorvidos pelos socialistas.

A estratégia de Costa – apoiada por Catarina, Jerónimo e Heloísa – é tal qual o algodão pois não engana: sacrificar BE, PCP e PEV na luta contra a direita dando margem suficiente ao Governo para tentar conquistar uma maioria absoluta para o PS. Duvidam?

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.