Vinte meses de governo socialista de António Costa e a maioria de Governo e de esquerda estremece. Frágil nas suas convicções e inexistente nas suas fundações, a geringonça demonstra que a argamassa que a une tem mais água que cimento, mais egoísmo que interesse nacional, mais taticismo que perspetiva estratégica.

Bastou uma crise séria e grave, um incêndio e um assalto. Bastou a necessidade de autoridade para fraquejar a capacidade de decisão. A responsabilidade política ficou presa na porta e entalada na titubeante fuga para a frente dos governantes envolvidos com relatórios sucessivos, em nebulosos adiamentos de decisão e alarmante falta de sentido de Estado.

A silly season do Governo tem a dimensão dos ataques públicos a uma empresa privada, uma inoportuna remodelação secretarial e o ensaio de não envolvimento em processos difíceis. Aligeirar para não entrar em perda junto de sindicatos e de parceiros, embora se assemelhe mais a um fogo-de-vista ou uma sucessão de pequenos arrufos.

A falta de sentido de Estado do Governo é uma constante. Desrespeito pelas instituições, pelos militares e pelas forças de segurança. Quando não é diretamente, é pela desresponsabilização funcional, encontrando bodes expiatórios em dirigentes de uma função pública que não se sente dignificada.

Se o Governo não se dá ao respeito o que dizer da coligação que o suporta. Multiplicam-se os episódios em que BE e PCP sacodem a água do capote. Na saúde e na política florestal, na economia e na defesa arranham os governantes. Na política externa a diferença é gritante e escandalosa. Estes partidos apenas têm como propósito chegar-se à governação e preparar a sua representação política próxima, seja nas eleições autárquicas seja para as eleições legislativas.

Preocupação única do PS, o controlo dos danos de imagem, por força da erosão provocada pelos erros do Governo, e o crescente receio interno e da maioria que os resultados da ilusão de bom desempenho iniciem um processo de regresso a um passado recente, e a um tempo em que os resultados da governação socialista levaram à intervenção externa e à abdicação da sua liberdade de decisão.

A tudo isto o Governo resiste, ancorado numa agressiva estratégia comunicacional que. desconstruindo as ações impostas pela troica, criou um descritivo de bondade e abrangência pela redistribuição ativa e imediata de tudo o que tinha sido acautelado em anos anteriores. E assim, atempadamente, aprovisiona um aumento providencial de pensões a um mês das eleições. Previne estragos maiores que a governação e ambição partidária provocam na maioria.

A dívida pública cresce mas que importa. O dinheiro continua a ser profusamente distribuído em rendas e benesses coletivas. Mais tarde pagaremos. Elementar.