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Síria: Um ano depois do cessar-fogo, ataques são recorrentes em Idlib

O regime de Bashar al-Assad, que controla cerca de 60% do território, continua a atacar a mais importante região ainda na posse dos opositores que, há 10 anos, lideraram os protestos.
23 Março 2021, 07h50

É possível com grande facilidade provar por via da matemática mais simples que os cessar-fogo parecem existir principalmente para serem violados e, por maioria de razão, na Síria não havia de ser diferente: um ano após o cessar-fogo entre a Turquia e a Rússia (apoiante de Bashar al-Assad) pelo último bastião da oposição, os ataques do regime sírio continuam a flagelar Idlib.

Um ano após o lançamento naquela martirizada região de uma operação liderada pela Turquia, que levou a uma trégua frágil na província de Idlib, no noroeste da Síria, uma ONG contabilizou pelo menos 75 ataques (mais de um por semana, em mádia) perpetrados pelo regime de Bashar al-Assad e seus aliados – Rússia e Irão.

“O acordo de cessar-fogo em Idlib em março de 2020 foi acompanhado pela eclosão da pandemia, que acreditamos ter tido um grande impacto na capacidade do exército do regime sírio e das milícias iranianas a ele ligado. Assim, isso contribuiu para um declínio nas operações de bombardeio contra civis, levando a um declínio nas vítimas civis”, disse a Rede Síria para os Direitos Humanos (SNHR) ao jornal turco Daily Sabah.

Embora os ataques aéreos contra a província tenham diminuído significativamente, aparentemente não pelas melhores razões, a SNHR afirma que, “apesar do cessar-fogo, o bombardeamento terrestre realizado pelas forças do regime sírio e seus aliados em áreas próximas às linhas de contato não parou, continuando em conjunto com o bombardeamento de algumas áreas relativamente distantes da linha de contato, como a cidade de Ariha”.

Quase um milhão de pessoas fugiram da ofensiva do regime de al-Assad em Idlib desde dezembro de 2019, com a fronteira turca a ser o local mais procurado. Uma trégua foi negociada entre Moscovo e Ancara em março de 2020 em resposta aos meses de combates pelo regime apoiado pela Rússia, mas os ataques sistemáticos a civis impedem o regresso dos refugiados.

Ainda assim, cerca de 300 mil pessoas deslocadas voltaram, afirmou a SNHR, indicando que a maioria voltou para áreas longe das linhas de contato, incluindo a região de Jabal al-Zawiya, a cidade de Ariha e seus subúrbios e a província de Aleppo.

Como seria de prever, a organização humanitária sublinhou que os residentes de Idlib também “sofrem de pobreza generalizada e desemprego devido à elevada densidade populacional e à falta de oportunidades de emprego”.

Um total de 12,4 milhões de sírios (quase 60% da população) está em situação de insegurança alimentar, informou recentemente o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas. Embora as instituições turcas, as Nações Unidas e organizações humanitárias internacionais continuem a tentar fornecer ajuda humanitária, o problema está muito longe de ficar resolvido.

Atualmente, os observadores confirmam que cerca de 60% do território do país está novamente na posse do regime, no final de uma série de vitórias militares apoiadas pela Rússia. Idlib, com 2,9 milhões de habitantes e um dos centros do início dos protestos contra al-Assad, em 2011, é uma das poucas regiões que ainda resistem ao regime de Damasco.

Organizações turcas comprometeram-se a construir um total de mais de 50 mil casas até o final de 2021. A construção está em andamento em 124 locais diferentes em Idlib e um total de 27.665 casas já foram concluídas, das quais 17.553 já estão habitadas, segundo adianta aquele jornal.

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