Segundo o Fórum Económico Mundial, mudar-se para o estrangeiro e começar uma nova vida num país diferente é uma das experiências mais aterradoras e, ao mesmo tempo, mais estimulantes que um ser humano pode vivenciar. Quando saímos do nosso país juntamo-nos a um clube especial onde os membros fazem parte de dois mundos, a nova casa e o antigo lar.

Dizer adeus, despedir-se dos nossos não é algo que esteja na natureza humana, mas com a repetição e o passar do tempo torna-se menos doloroso. Estar longe, com milhares de quilómetros entre nós e sem os nossos é realmente muito duro. E mesmo que estejamos num país agradável e a experiência profissional seja gratificante, do outro lado do mundo a vida continua e nós não estamos lá para fazer parte dela. E é tão complicado para nós como aqueles que ficaram em Portugal.

Mas, pouco a pouco, vamo-nos convertendo em cidadãos locais, nunca ao ponto de o sermos de pleno direito, mas a integração acontece e começamos a fazer o que fazem os locais. Fazer parte de uma cultura diferente é algo fantástico.

Viver fora do nosso meio desperta a criatividade, porque nos obriga a sair da zona de conforto e temos de buscar o melhor que há em nós. Melhora as nossas capacidades de comunicação, primeiro porque temos de falar numa língua que não é a nossa, mas também porque uma cultura diferente requer novas capacidades para podermos eficazmente exprimir e partilhar sentimentos e desejos. Obtemos uma perspectiva muito mais ampla, porque somos obrigados a ver as coisas sobre muitos novos pontos de vista. Fazemos uma melhor gestão dos recursos a que temos acesso e estamos mais alerta, despertando capacidades adormecidas no nosso cérebro para identificar ameaças. Tudo isto somado representa um enorme estímulo e desenvolvimento da inteligência emocional, condição essencial para o sucesso na nossa vida como ser humano.

A mobilidade laboral a nível mundial, motivada pela globalização e acentuada pelas crises das economias ditas desenvolvidas, é uma oportunidade para todos nós e muito especialmente para os nossos jovens. Faz-me recordar 2011, quando o então primeiro-ministro Passos Coelho aconselhava os jovens a considerarem experiências profissionais fora de Portugal, o que lhe valeu um violento ataque dos zelotas do politicamente correcto, que possivelmente nunca leram um dos escritores favoritos da minha juventude, Mark Twain, quando dizia “Daqui a vinte anos estarás mais decepcionado pelo que não fizeste do que pelo que fizeste. Por isso solta as amarras e abandona o porto seguro, caça os ventos da mudança nas tuas velas, explora, sonha, descobre”.

Na verdade, Passos Coelho estava apenas bem à frente no seu pensamento, pois se bem que a vida seja difícil durante algum tempo, viver no estrangeiro é uma dessas experiências que todos deveriam experimentar uma vez na vida. Que o digam os jovens portugueses que me acompanham deste outro lado do Atlântico e que com sensibilidade, determinação, capacidade e coragem se consolidam como profissionais de excelência nas empresas onde trabalham ou que como empresários desenvolvem com sucesso negócios inovadores.

Afinal, não foi o que sempre fizeram os portugueses ao logo da sua história, soltar as amarras e abandonar o porto seguro?

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.