A dívida portuguesa voltou a crescer este ano. Atingiu em Agosto 250 mil milhões de euros, cerca de 130% do valor da riqueza nacional medida em termos do produto interno. Se dissermos que no ano passado este rácio era ligeiramente mais alto (chegou a ser de 133%), o leitor poderá entender que estamos hoje menos endividados, mas a leitura atenta dos números mostra um ângulo mais cauteloso.

Na verdade, estaríamos, muito provavelmente, a ter outra conversa em Portugal, não fosse o facto de continuar a imperar a força do Banco Central Europeu nos mercados através do seu programa de estímulos monetários. Neste último aspecto importa recordar e salientar que estas medidas de política monetária não tiveram como objectivo central a estabilização financeira do mercado da dívida soberana das economias da periferia, mas sim o estímulo à inflação na área do euro como um todo. É certo que permitiu a redução drástica dos custos de financiamento dos estados, mas esta redução foi aproveitada – não apenas em Portugal, é verdade – para estancar ou reverter o ímpeto reformista, dando uma ilusão de que a necessidade de mudar estruturalmente os hábitos terminou. O que é uma percepção muito errada da realidade, que se encontra de facto mascarada pela massiva injecção de liquidez no sistema.

A própria última leitura do PIB português mostrou um lado cinzento, e que poderá resultar num abrandamento em 2018, depois do turismo ter conferido uma dinâmica acima do esperado nos últimos trimestres – o aumento dos bens importados e a manutenção do malparado no balanço dos bancos em níveis muito elevados poderão ser condicionantes para o crescimento. Sem banca saudável não há investimento, e isso poderá ser mais visível nos próximos anos.

Entretanto, da Moody’s vem um beijo gostoso. A agencia de notação de rating subiu a perspectiva de notação de risco para positivo, o que deixa a entender uma potencial subida para níveis de investimento (investment grade) dos actuais níveis de notação especulativa nos próximos seis a 12 meses. Esta é de facto a grande notícia favorável para fechar o ciclo da recuperação da credibilidade, e só peca por tardia. Sair de lixo é fundamental para o país, como já referi num artigo neste espaço. Recorde-se que nas vésperas das eleições legislativas, em 2015, a agência Fitch tinha levantado esta mesma perspectiva. Para reduzir de novo em 2016, na sequência da narrativa política do actual executivo.

Se existem conclusões a retirar são as seguintes. Primeiro, vale a pena reformar. Foram as reformas que permitiram crescer e voltar aos mercados. Segundo, a narrativa política deve mudar para que o país possa avançar. A actual custou dois anos até voltar a entrar no radar positivo das agências de rating. É o compromisso com as reformas que trará futuro ao país, a alternativa é a manutenção da austeridade, que na verdade nunca nos deixou.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.