Nestes tempos de modernidade causada, em grande parte, pela Internet e pelas ferramentas que daí decorrem, a rapidez das comunicações é, ou parece sempre ser, uma grande vantagem. Claro que há prós e contras em cada realidade existente, mas tendemos a assinalar mais os aspectos positivos como o de poder estar hoje em Hong Kong e enviar informação para um dos meus co-autores em Londres, ou estar na Cidade do Cabo de férias e falar e ver os meus pais que, calmamente, bebem um café em Lisboa. Estas é a realidade para a maior parte de nós, quer ao nível laboral, quer social e familiar, e assim as vantagens da Internet e da actual tecnologia em geral, nos possibilitam.
No nosso tempo são inúmeras as escolhas de comunicações que podemos fazer, o mundo tornou-se verdadeiramente mais pequeno e rápido, o que nem sempre é tão bom ou sem consequências perniciosas, como já referi.
Um dos grandes desafios da nossa realidade tecnológica, além da transformação do mercado de trabalho com o término de muitos postos de trabalho para já e para o futuro, é a maneira como as empresas podem interferir com as comunicações dos seus funcionários. Para ser mais concreta, para os trabalhadores em países membros da União Europeia (UE) desde dia 5 de Setembro último que poderão ter que legalmente lidar com a possibilidade de as suas empresas terem acesso a comunicações pessoais e sociais, que não impliquem, necessariamente a empresa, isto se em horário laboral.
Para que o prévio possa acontecer de maneira legal, conforme o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos deliberou e assim celebrou essa possibilidade, basta que para tal a empresa dê previamente a conhecer este aspecto aos seus trabalhadores.
Por norma e no passado, os direitos laborais dos trabalhadores, no que à privacidade das suas comunicações diz respeito tem sido protegida vezes sem conta, mas com esta deliberação acrescenta-se um aspecto importante que é o pré-aviso, o que permite que as empresas num futuro não muito distante tenham a possibilidade de agir diferentemente. Se, relativamente aos e-mails das empresas esta realidade já era bastante escorregadia, esta monitorização social e pessoal terá muito que se lhe diga.
Num mundo em que o Big Brother de Orwell se aproxima cada vez mais do real, resta-nos saber onde fica a distinção entre a esfera pública e a esfera privada, entre o indivíduo e o colectivo, e entre a liberdade de se ser mais do que o trabalhador x ou y. Penso que, sobre este assunto, não há retorno ao ponto zero, nem assim o desejaria, tudo devido à tecnologia que referi, mas acredito também que a bem de cada um de nós sejam impostos limites, e sobre esses apenas a Lei e a Política nos podem valer.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.