Em Portugal temos o péssimo hábito de não aprender com os melhores exemplos. Acontece na economia, por exemplo. Durante demasiado tempo andámos atrás de modelos terceiro-mundistas, que só conduziram à perpetuação da pobreza, e ainda hoje há gente respeitável a defender a estatização da economia como alternativa viável, à revelia de todos os ensinamentos que a história do século XX nos transmitiu.
Se há caso que nos devia merecer particular atenção e servir-nos de referência inspiradora é o da Alemanha, quarta potência económica mundial (atrás dos EUA, da China e do Japão) e responsável por 7,7% das vendas de bens e serviços à escala planetária, funcionando como autêntica locomotiva do crescimento na União Europeia.
Mas nem sempre assim foi. Em 2004, a revista Economist chegou mesmo a rotular a Alemanha de “doente da Europa”. Devido em grande parte aos custos da unificação – resultantes da queda do Muro de Berlim – e aos mecanismos anquilosados do seu sistema produtivo e estruturas sindicais, o país enfrentava um cenário de estagnação. Entre 1998 e 2005, o PIB germânico cresceu em média apenas 1,2% ao ano e, em 2003, registou-se mesmo uma recessão, enquanto o desemprego subia para um máximo de 11,1% em 2005 (dados do Banco Mundial).
Hoje, esses tempos parecem-nos já muito distantes. Porque a economia soube regenerar-se graças a políticos com visão de futuro, como o chanceler social-democrata Gerhard Schröder, que introduziu ao longo do seu consulado (1998-2005) um vasto conjunto de reformas tendentes a reforçar a competitividade da indústria germânica no quadro de um sistema de relações industriais mais dinâmico e flexível. Estas reformas facilitaram a multiplicação dos acordos de empresas, simplificando a representação dos trabalhadores nas empresas, descentralizando os processos de negociações laborais e uma melhoria sustentada dos custos unitários de trabalho relativos – a Alemanha tem vindo a registar desde 1995 uma melhoria sustentada destes custos face aos seus principais parceiros comerciais.
Foi um autêntico pacto de regime que beneficiou do consenso da oposição democrata-cristã, liderada por Angela Merkel, no poder desde 2005. Traduziu-se, verdadeiramente, num consenso interpartidário sobre a economia social de mercado.
Os resultados estão à vista: a conflitualidade caiu a pique, os ganhos foram notórios. Na Alemanha, no período 1991-1999, havia em média 11 dias anuais de greves para cada mil trabalhadores. Hoje há apenas cinco. Enquanto nos EUA há 32 dias, em Itália regista-se 93 e em França nada menos do que 103 dias de paralisação laboral (dados da OCDE).
Ninguém voltou a chamar-lhe “doente”. Agora é a superestrela da economia europeia, com o crescimento do rendimento per capita mais alto do mundo desenvolvido, um milhão e meio de empregos criados só em 2016, o mais baixo índice de desemprego desde a reunificação (6,1%) e assumindo-se como um dos três maiores exportadores globais.
Um excelente exemplo para Portugal seguir. Alguém duvida?