Quase ninguém sabe dizer o nome da empresa. Vamos começar por aí. Escreve-se Yupido, mas lê-se (em inglês) Yup i do, o que quer dizer, em tradução livre, “Sim, Eu Faço”. O nome é, no entanto, um pormenor num sem número de outras questões sobre a empresa portuguesa, que os portugueses só conhecem há uma semana, mas que nasceu em 2015 e saltou para as páginas dos jornais por ter registado um capital social de 28.768.199.972 euros, um número enorme, que duplica o capital social da Galp Energia, que tem uma operação internacionalizada no mundo do investimento intensivo que é o do petróleo; que é nove vezes o capital social da EDP – Energias de Portugal, a maior empresa portuguesa cotada em bolsa; que é 62 vezes maior do que a capitalização bolsista do Banco Comercial Português (BCP), o maior banco privado português; que é equivalente a 15% do Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal.
Esta estre improvável do espaço mediático foi fundada por Hugo Martins, Cláudia Alves e Torcato Jorge, que é presidente da empresa e explicou ao Jornal Económico que tudo foi feito como mandam as regras. “A empresa foi constituída há dois anos, e tanto o capital inicial como o aumento são do conhecimento público. Todos os procedimentos legais, tanto na constituição da empresa como no aumento de capital, foram cumpridos e aceites pelos órgãos competentes”, garantiu. Antes, suscitou a curiosidade de quem viu no imenso capital social da Yupido uma anomalia estatística, depois, tornou-se matéria de notícia, a seguir, passou a ser alvo de interesse das autoridades – Polícia Judiciária, Procuradora Geral da República – e do regulado do mercado de capitais.
Mas quem é Torcato André Jorge Caridade da Silva, este empreendedor quase secreto que se tornou objeto de notícia com uma empresa que nem tem ainda operação? Tem 26 anos de idade, é Licenciado em Ciência Política pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, onde também se tornou mestre em Administração Pública. Chegou, mesmo, a concorrer a uma posição no Estado, com entrevista marcada, a que nunca chegou a ir. Explica que foi seduzido pelo projeto da Yupido e por tudo o que se poderia construir com uma plataforma inovadora e revolucionária, que tem já serviços pensados para lançamento no próximo ano, contando que tudo corra de feição. Será uma plataforma de comunicação, explica, o que se torna curioso, para quem é um ‘millennial’ sem conta no omnipresente Facebook.
“Antes de iniciar o projeto, saí das redes sociais, por decisão pessoal”, contou ao Jornal Económico. “Gosto de estar com as pessoas de quem gosto, e gosto que elas saibam o que estou a fazer. Não preciso de estar nas redes sociais”, explicou ainda.
No entanto, antes desta postura recatado e do secretismo que rodeia o que a Yupido faz, Torcato Jorge teve uma vida até bastante pública: fez parte, por exemplo, da Juventude Popular e do CDS-PP e, até, com responsabilidades em órgãos, mas até deixar de fazer sentido: “Foi um capítulo importante na minha vida, mas rapidamente percebi que o que queria fazer na vida era ser empreendedor”, contou.
Agora, o sonho é evoluir de uma startup tecnológica para um gigante do setor, com a ambição de ter o mundo como mercado. “Se esta empresa tivesse sido criada nos Estados Unidos, as notícias seriam diferentes – era mais uma empresa, com uma dimensão grande, com um ativo tecnológico extremamente interessante que vai potenciar a economia – como foi em Portugal, foram feitas comparações erradas”, critica. E o que seria o certo, perguntamos.
“Queremos ser comparados e queremos ser vistos como uma startup tecnológica que está a começar. Como estamos a começar, não temos a infra-estruturas das outras empresas, mas estamos preparados para dar resposta aos desafios que temos pela frente”, explica. “Aúnica coisa que queremos é fazer com que a nossa ideia avance, tal como a ideia do [Mark] Zuckerberg avançou, tal como a ideia do [Evan] Spiegel, do Snapchat, avançou, tal como o Bill Gates, Steve Jobs, etc”, afiança. “Eles não são diferentes de nós, são pessoas iguais a mim, com as mesmas capacidades, mas só depende da perspectiva. Não é por sermos portugueses que não podemos fazer uma coisa absolutamente grande”, defende, sublinhando aquela que considera ser a mensagem a reter: “A Yupido é uma empresa para as pessoas”. Por enquanto, ainda só no papel.
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