Quem tem medo de Rui Moreira?
Nunca se viu uma campanha eleitoral em que houvesse uma preocupação tão grande com um só candidato. Rui Moreira, depois de ter feito uma campanha vitoriosa e pacífica, compreendeu que tal só aconteceu porque na altura os directórios partidários excluiram liminarmente a possibilidade da sua eleição. A partir das sedes lisboetas, Rui Moreira era um fenómeno extravagante que as máquinas partidárias esmagariam sem esforço. Enganaram-se em relação a Rui Moreira. Enganaram-se em relação ao Porto e às suas Gentes.
Despertos para o “problema”, passados quatro anos, os mesmos directórios definem estratégias diferentes. No Rato, com a espertice habitual, Costa manda Ana Catarina Mendes cativar e colonizar a candidatura de Rui Moreira. Em S. Caetano à Lapa, inventa-se uma coisa híbrida com um suposto independente, multi-nomeado pelo PSD, para criar uma candidatura de pechisbeque e montar uma campanha de tentativa de descredibilização de Rui Moreira.
Em ambos os casos, os resultados são conhecidos. Ao PS, Rui Moreira fechou a porta, assegurando a preservação da sua independência, evitando que a sua candidatura fosse uma flor na lapela de Costa, uma porta de entrada na câmara para o sedento aparelho socialista do Porto. Ao PSD, o Porto vai respondendo com a aversão que tem a campanhas sujas e feitas de casos, remetendo Álvaro Almeida à sua dimensão real.
O Porto de Rui Moreira incomoda muitíssimo. A independência, a agenda local, a legitimidade que o apoio da população sublinha é uma enorme pedra no sapato do centralismo lisboeta e um terrível desassossego para os directórios partidários que dormiam tranquilos com obedientes mandatários no Porto, que invariavelmente, sonhavam apenas chegar a Lisboa e sentar-se à mesa dos donos disto tudo. A fortíssima operação de comunicação a que assistimos na passada semana, montada sobre uma sondagem inverosímil, divulgada ad nauseam, com um “spin” articulado dos comentadores do regime nas rádios e outros meios da situação durante todo o dia, foi a mais evidente prova deste magno incómodo.
Como ninguém conseguia apontar falhas à governação de Moreira, acusavam-no de ser da Foz, de ser convencido, de fazer pouca campanha! Já Pizarro era a formiguinha trabalhadora, o homem de discreta mas enorme inteligência, a alma do mandato inatacável de Moreira! Perpassava, sem excepção e sem humildade, um despeito enorme por um tipo lá de cima, do Porto, ganhar eleições sem os partidos. Irrita esta nomenclatura que o Povo do Porto decida pela sua cabeça e entregue a gestão do seu destino colectivo a um dos seus, sem partidos, nem interesses de Lisboa pelo meio.
Pode esta elite lisboeta continuar com Pizarro ao colo, sonhando assim voltar a controlar o Porto e a satisfazer os boys de sempre. Pode mimar Alvaro Almeida, acreditando que no Porto a calúnia vale o mesmo que nos corredores onde circulam. Pode calar a divulgação na imprensa de mega-comícios como o do Rivoli no sábado passado, mas o Povo do Porto estava lá, sem camionetas, sem brindes, sem porcos no espeto ou variedades. Podem fazer tudo e de tudo, mas deviam ter começado por aprender o mote da cidade, que será sempre nobre, leal e invicta.
Quem não tem medo de Medina?
Assunção Cristas. Claramente inconformada com estatuto invicto de Medina, Assunção Cristas tem desenvolvido uma excelente campanha em Lisboa. Onde o establishment dá por adquirida a vitória do presidente não eleito, Cristas vai rua a rua, casa a casa, carro a carro contrariar esta fatalidade e acordar uma das virtudes da democracia: a possibilidade de mudança.
Independentemente do juízo que faço de Assunção Cristas enquanto presidente do CDS, é da mais elementar justiça sublinhar a sua vocação autárquica. Em Lisboa, Assunção Cristas revela-se aquilo que um presidente de câmara deve ser, a lembrar sem favor uma versão actual de Nuno Kruz Abecassis. A proximidade, o à-vontade, o estudo dos dossiers da capital, abalam um acomodado pequeno rei à espera de uma entronização tranquila por via hereditária e partidária.
Quem pensou que o trabalho inteligente, persistente e bem divulgado de João Gonçalves Pereira, o verdadeiro líder da oposição em Lisboa, e de Diogo Moura, autarca por natureza e amor a Lisboa, não daria frutos, enganou-se redondamente. Hoje, Assunção Cristas completa e dá a cara por quatro anos de excelência, constituindo-se por mérito próprio como alternativa credível e capaz.
Se o Porto vai escolher um portuense fora do sistema, Lisboa também poderá escolher uma lisboeta fora da caixa.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.